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O vírus da anarquia militar escapou ao laboratório do Exército

O perdão dado a Pazuello representa um risco para a unidade das Forças Armadas, e favorece a indisciplina

atualizado

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Andre Borges/Esp. Metrópoles
Presidente Jair Bolsonaro durante enentos com militares brasileiro
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro durante enentos com militares brasileiro - Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

Quem diria que um dia, de volta aos quartéis há 36 anos depois de bancar uma ditadura que o desgastou e mandou pelo ralo a disciplina e a hierarquia militares, o Exército incorreria no mesmo erro. Ditadura à vista, por enquanto, não há nem parece provável.

Mas a disciplina e a hierarquia foram comprometidas com a decisão de não punir o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, que compareceu a uma manifestação político-partidária em favor do presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro.

Espera-se, e não deverá tardar, a presença de militares da ativa, de baixa patente, em manifestações da mesma natureza a favor ou contra o presidente da República. E se tal ocorrer? Serão poupados de punição como foi o general? Serão punidos ao contrário dele?

O Regulamento Disciplinar do Exército só vale para militares que não tenham alcançado ainda o generalato? Ou continua valendo para todos, menos para os simpatizantes do ex-capitão que, no passado, planejou atentados terroristas a unidades militares?

Disciplina e hierarquia devem ser desprezadas se o objetivo final é evitar a volta de partidos de esquerda ao poder? Em 2018, o Exército esqueceu os motivos que o levaram a afastar Bolsonaro dos seus quadros para apoiá-lo como candidato a presidente.

Sob o pretexto de não perder o controle dos praças e oficiais que votariam em massa no ex-capitão, o Exército, à época comandado pelo general Eduardo Villas Bôas, aderiu à candidatura Bolsonaro e fez o confessável e o inconfessável para que ele se elegesse.

Confessável foi pressionar o Supremo Tribunal Federal para que mantivesse Lula preso e inelegível. Inconfessável, por exemplo, compartilhar com Bolsonaro informações sigilosas, obtidas pelo serviço de inteligência da Arma, para que não fosse surpreendido.

A recompensa aos fardados foi oferecida tão logo Bolsonaro assumiu a presidência. Como ele mesmo admitiu outro dia, nem os governos da ditadura empregaram tantos militares em cargos antes ocupados por civis. São mais de seis mil até agora.

Os contracheques engordaram. Os militares tiveram direito a uma reforma da Previdência para chamar de sua. Enquanto os paisanos sofriam perdas, os fardados ganharam reajustes de até 73%, incluindo novos penduricalhos.

Os oficiais que vão para a reserva passaram a ganhar bônus de oito salários, o dobro da regra anterior. Um dos primeiros a receber foi o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Ele pendurou o quepe de almirante com um mimo de R$ 300 mil.

O perdão a Pazuello poderá render outros dividendos aos fardados, mas o resultado imediato é a cisão nas fileiras do Exército. Muitos oficiais à frente de batalhões estão inconformados. Como garantir o respeito às suas ordens depois do que aconteceu?

Uma vez que o vírus da anarquia militar escapa ao laboratório do Exército onde suas causas e efeitos são estudados, fica difícil detê-lo. É grande o risco de a infecção espalhar-se. Na verdade, é o que mais deseja Bolsonaro, temeroso de não se reeleger.

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