O Rio de Janeiro continua lindo apesar do mau cheiro que exala
O escândalo dos salários secretos
atualizado
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No país do Orçamento Secreto e agora do Salário Secreto, o presidente da República quer filmar o voto secreto por desconfiar que de secreto ele nada ou pouco tem.
Não conseguirá, por mais que se valha das Forças Armadas para isso. Quanto ao Orçamento Secreto, ele pouco se incomoda porque o beneficia e também e aos que obedecem suas ordens.
Sobre o Salário Secreto, ele nada tem a dizer. É problema (ou solução) do Rio de Janeiro, onde três governadores seguidos foram presos e um cassado, e nem por isso a corrupção diminuiu.
Ali, onde o presidente fez carreira política em parceria com milicianos e nomes do crime organizado, o governador Cláudio de Castro (PL) é seu aliado, lidera as pesquisas e pode se reeleger.
Há dois meses, o site UOL descobriu o escândalo dos cargos secretos com a remuneração necessariamente secreta dos seus ocupantes. Só ontem, forçado pela justiça, Castro agiu.
O governador anunciou a demissão do presidente da Fundação Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio), Gabriel Lopes.
O órgão, certamente sem o conhecimento de Castro que tem mais o que fazer, foi usado para criar uma folha de pagamento com mais de 20 mil contratados sem nenhuma transparência.
Os pagamentos eram feitos na boca do caixa, com ordem bancária ou recibo de pagamento autônomo, sem que os nomes e a remuneração tenham sido publicados em qualquer meio oficial.
Com base no que o UOL revelou, o Ministério Público concluiu que a fundação se tornou “fornecedora de um imenso volume de mão de obra contratada para diversos órgãos do estado”.
Em saques, os pagamentos somam quase R$ 226,5 milhões. Só este ano, a fundação emitiu 91.788 ordens de pagamento, para 27.665 pessoas. Uma festa, ou uma farra nas barbas de Castro.
Segundo a Transparência do governo, os empenhos do Ceperj saltaram de R$ 21,2 milhões em 2020 para R$ 127,4 milhões em 2021. Este ano, a verba quadruplicou: R$ 508,7 milhões.
A maioria dos favorecidos recebeu mais de um pagamento, o que indica que não dizem respeito a fornecedores eventuais, mas à remuneração de mão de obra temporária por prazo determinado.
Em defesa de Castro saiu o líder do governo na Assembleia Legislativa, o deputado Rodrigo Bacellar (PL), que também foi secretário de Governo:
“Se o pecado do governo é gerar emprego, levar comida para a boca de quem precisa, me condenem. Não me verão fazendo sacanagem como fizeram muitos conterrâneos, levando inclusive sacolas de dinheiro para casa”.
O Rio de Janeiro continua lindo apesar do mau cheiro que exala.