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O que pode explicar o nervosismo do presidente Jair Bolsonaro

Recepcionado em Guaratinguetá com gritos de “fora” e “genocida”, Bolsonaro teme muitas coisas que ainda estão por vir

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Bolsonaro
1 de 1 Bolsonaro - Foto: Reprodução/TV Vanguarda

O negacionismo do presidente Jair Bolsonaro chegou ao ponto de ele não querer nem mesmo ouvir o que dizem a seu respeito, embora saiba o que é dito. Esse foi um dos motivos da sua explosão de fúria em Guaratinguetá, interior de São Paulo, quando tirou a máscara, encarou a repórter que lhe fizera uma pergunta, e sentiu-se tentado a agredi-la, para desespero de sua comitiva.

Não sobrou só para a repórter. Sobrou acima de tudo para o militar responsável por sua segurança. O que Bolsonaro disse a ele não se escreve nem se publica. Contada por um membro da comitiva presidencial a um deputado federal do Centrão que apoia o governo, a história foi passada adiante porque era muito boa para ser guardada. Quem a ouviu na Câmara ficou estupefato.

Bolsonaro chegou a Guaratinguetá sob a pressão de muitos fatos negativos para ele. No sábado, mais de 700 mil pessoas foram às ruas de todas as capitais do país pedir seu impeachment e mais vacinas. Pesquisa de intenção de voto aplicada por uma empresa americana indicou que ele seria derrotado com folga por Lula se a eleição presidencial tivesse acontecido há 15 dias.

Àquela altura, Bolsonaro já sabia que a CPI da Covid-19 dispõe de informações sobre a compra superfaturada da vacina indiana, e do envolvimento na negociata do líder do seu governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR) e de servidores do Ministério da Saúde, à época comandado pelo general da ativa Eduardo Pazuello, agora com gabinete no Palácio do Planalto.

Para um presidente que nega a existência de corrupção em suas proximidades, isso pode ser péssimo. Como péssimo é carregar no colo um ministro investigado por contrabando de madeira nobre da Amazônia, no caso o do Meio Ambiente, seu queridíssimo Ricardo Salles. Bolsonaro teme que a qualquer momento, o Supremo Tribunal Federal possa afastar Salles do cargo.

Não é só o que teme, e o que o levou a livrar-se das algemas que o prendiam ao modelo de presidente relativamente contido, fantasia que veste e desveste de acordo com o pulsar das crises provocadas por ele mesmo. O ex-governador Wilson Witzel, do Rio, prometeu revelar segredos em uma sessão secreta da CPI da Covid ainda a ser marcada. E nenhum deles será favorável a Bolsonaro.

Tem mais o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, a queixar-se dia sim e o outro também, de ter sido marginalizado por Bolsonaro. De tanto dizer, demarca-se dele ostensivamente para – quem sabe? – estar pronto ante a eventualidade de ter de substituí-lo. Bolsonaro desconfia da própria sombra, quanto mais de ex-companheiros de farda.

Não os perdoa por tê-lo defenestrado do Exército por mau comportamento, e pela humilhação de não ter podido sequer matricular seus filhos em colégios militares.

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