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O que o Brasil pode aprender com a eleição para presidente do Chile

O continente volta a inclinar-se para a esquerda

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Chile elege presidente
1 de 1 Chile elege presidente - Foto: Reprodução

Nunca antes na História do Chile um candidato que ficou em segundo lugar no primeiro turno se elegeu presidente da República no segundo. Aconteceu com Gabriel Boric, ex-líder estudantil de esquerda, que derrotou José Antonio Kast, empresário e político da extrema direita, por 55,87% dos votos válidos contra 44,13%.

Nunca antes o Chile elegeu um presidente tão jovem. Se a eleição tivesse ocorrido há um ano, Boric não poderia tê-la disputado, porque tinha apenas 34 anos. A idade mínima para concorrer à Presidência é de 35 anos, completados por ele em fevereiro último. Boric elegeu-se antes deputado federal duas vezes.

O voto no Chile deixou de ser obrigatório em 2012. Em 2020, no plebiscito sobre nova Assembleia Nacional Constituinte, votaram cerca de 7,5 milhões de pessoas. Agora, mais de 8 milhões. A participação aumentou em 4 pontos percentuais entre o primeiro e o segundo turnos – algo como 1 milhão de eleitores.

Filho de um militante do Partido Nazista que foi soldado de Hitler, Kast é admirador do ditador chileno Augusto Pinochet, em cujo período de governo foram mortas 3.200 pessoas e torturadas mais de 40 mil. Prometeu durante a campanha a abertura de um fosso na fronteira norte do Chile para conter a imigração.

Suas posições radicais não o impediram, contudo, de reconhecer de imediato a vitória de Boric. Visitou-o em seu comitê central de campanha e postou em sua conta oficial no Twitter: “Desde hoje ele é o presidente do Chile e merece todo o respeito e colaboração construtiva. O Chile sempre estará em primeiro lugar”.

Sebastián Piñera, atual presidente do Chile, apressou-se a cumprimentar seu sucessor. Os aliados dele votaram em Kast. “Todos esperam muito de você”, disse Piñera a Boric. “Todos. Os que votaram em você e os que não votaram.” Ouviu do presidente eleito que ele o procurará em breve para dar início à transição.

No segundo turno, Boric apresentou-se mais moderado do que no primeiro. Trocou o “companheiros e companheiras”, saudação que  usava na abertura dos seus discursos, por “chilenos e chilenas”. Se antes falava em promover “transformações estruturais profundas”, passou a falar em “mudanças que o Chile precisa”.

Em seu primeiro discurso como presidente, pregou: “Quero ser o presidente de todos os chilenos”, sem distinguir entre os que votaram nele e os que lhe negaram o voto. Disse que dará “passos curtos, mas firmes”. E que espera contar com a ajuda da esquerda, direita e centro. Governará em minoria no Congresso.

Boric é a face moderna da esquerda chilena. Defensor intransigente dos direitos humanos, não se acanha de criticar os países de governos tidos como de esquerda que os desrespeitam. Na América Latina, é o caso da Venezuela, Cuba e Nicarágua. O ex-presidente Lula comemorou sua vitória.

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