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Quanto a Justiça está disposta a pagar ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordem de Bolsonaro, para que ele conte tudo o que sabe sobre a trama golpista destinada a anular o resultado da eleição presidencial do ano passado, ganha por Lula?
Essa é a pergunta que se fazem militares de alta patente das Forças Armadas. Eles ignoram o que foi prometido a Mauro Cid em troca de sua confissão. Quanto mais alto for o preço em termos de redução de pena, mais perigosa se tornará a delação.
A essa altura, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica já sabem que foi menor do que pareceu a contribuição de Mauro Cid para o esclarecimento do roubo das joias milionárias e a falsificação dos certificados de vacina contra a Covid-19.
A Polícia Federal dispunha de provas suficientes sobre os dois crimes quando o interrogou. Mauro Cid apenas acrescentou detalhes nas mais de 30 horas de depoimentos prestados. Choveu no molhado. Foi solto e voltará a ser ouvido em breve.
A delação de verdade está para ser feita. E aí mora o perigo para os militares que se preocupam com a extensão dos danos à imagem dos fardados. Mauro Cid é dono de segredos que, se revelados, poderão destruir para sempre a reputação de generais, mas não só.
Na véspera de ser operado em São Paulo, Bolsonaro disse a Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, que jamais passou por sua cabeça a ideia de dar um golpe:
“Vocês não acham uma só situação minha agindo fora das quatro linhas da Constituição. Nenhuma. Não seria depois do segundo turno que eu iria fazer isso [tentar liderar um golpe]. Muito menos no 8/1. Eu já não era mais nada, estava fora do Brasil.”.
Sobre a tentativa fracassada do golpe de 8/1:
“O 8/1 foi um movimento que teve a participação do Poder Executivo [referindo-se ao governo Lula]. O nosso pessoal sempre foi de paz. Fez movimentos enormes no Brasil todo, e você não via uma cesta de lixo queimada, uma vidraça quebrada.”
Sobre Mauro Cid:
O Cid é uma pessoa decente. É bom caráter. Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar vai ter que comprovar. […] Sempre o tratei como um filho. Eu sinto tristeza com o que está acontecendo, né? Eu não queria que ele estivesse nessa situação.”
A conversa mole de Bolsonaro não vai calar Mauro Cid. Tampouco diminuirá o nervosismo dos comandantes militares. Para eles, por sinal, Bolsonaro é uma página virada da história. O que lhes interessa é recuperar a confiança perdida dos brasileiros.
O interesse de Mauro Cid, hoje, é outro: salvar o pai, um general, envolvido na venda e na recompra das joias surrupiadas por Bolsonaro; salvar a mulher, que em mensagens defendeu o golpe; e não voltar a ser preso. Quer ser perdoado. Valerá a pena?
Mas para ser, terá que entregar tudo que ainda guarda.