O que falta para que prendam Bolsonaro e o general Braga Netto?
Com a palavra, a polícia e a justiça
atualizado
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Prometi não mais escrever que “o cerco a Bolsonaro se fechou”. Mas não tenho culpa se o cerco se alarga, vez por outra, para incorporar novos fatos que só agravam a situação do ex-presidente e dos seus acólitos que tentaram dar um golpe de Estado.
Repito, pois: o cerco fecha-se outra vez com a descoberta de que Bolsonaro não só sabia como autorizou o plano de um grupo de militares para assassinar o presidente eleito Luiz Inácio da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
“Tudo sugere” que o país esteve próximo do que pareceria “inimaginável”, observa Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal. Alckmin e Moraes seriam mortos à bala; Lula, à bala ou envenenado. A operação foi suspensa em cima da hora.
Na noite daquele dia, 15 de dezembro de 2022, Moraes não foi localizado pelos criminosos, nem Alckmin, e Lula viajara a São Paulo para uma festa de fim de ano. É impossível que graduados chefes militares da época simplesmente ignorassem a trama.
Dela participou o general Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro, e ex-ministro da Casa Civil e da Defesa do governo. Braga Netto cedeu sua própria casa para reuniões dos golpistas e pressionou colegas de farda para que aderissem ao plano.
Se o golpe tivesse dado certo, no dia seguinte, seria montado um “gabinete de crise” para convocar novas eleições sob o comando de Braga Netto e do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência.
Pelo menos quatro dos golpistas foram presos ontem pela Polícia Federal. O que falta agora para que Bolsonaro, Braga Netto – e sabe-se lá mais quem – sejam presos? Política é como novela: cada capítulo reserva uma surpresa e remete para o seguinte.
Uma investigação policial é a mesma coisa: cabe a quem a chefia, e a quem mais ele ouça, escolher os melhores momentos para revelar o que já foi apurado. Quando o faz é porque a investigação está mais avançada do que é possível admitir.
Solitário ou não, o lobo que na semana passada morreu ao disparar rojões contra o prédio do Supremo é uma prova inquestionável de que o terrorismo segue vivo e de que ninguém está a salvo dele. Não se descarta a possibilidade de que outros lobos acordem.
Preocupado em salvar a pele do pai, o senador Flávio Bolsonaro disse que cogitar a morte de alguém não é crime. E planejar a morte? E trocar mensagens a respeito? E recrutar pessoas para que matem? E monitorar os alvos a serem mortos? Isso é o quê?
A cogitação não é punível. Mas o que houve não foi cogitação. Era um plano em execução, com as digitais do presidente da República, abortado pela força das circunstâncias.