O que Bolsonaro prometeu a Biden em troca de ajuda para se reeleger
Expressões como “afronta à soberania nacional”, “humilhação” e “vergonha” não constam do dicionário da maioria dos políticos
atualizado
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Se Bolsonaro, em reunião com o presidente Joe Biden, referiu-se a Lula como um esquerdista radical, refratário aos interesses americanos, dispensou-se de dizer que ele, Bolsonaro, seria justamente o oposto caso fosse reeleito. Elementar, meus caros.
O que mais ele disse a Biden ao implorar a ajuda americana para nem tão cedo desocupar o Palácio da Alvorada, esbarrou na indiferença do presidente dos Estados Unidos que, segundo a agência de notícias Bloomberg, preferiu mudar de assunto.
Só chefes de republiquetas seriam capazes de se comportar diante de Biden, ou de qualquer outro mandatário de Estado poderoso, como Bolsonaro se comportou, e até eles sabem que haveria canais mais adequados e seguros para se obter esse tipo de ajuda.
O presidente Richard Nixon, forçado a renunciar para não ser deposto e preso, gravava todas as conversas que tinha na Casa Branca. Se Biden assim faz dentro ou fora da Casa Branca, ignora-se. Vladimir Putin, presidente da Rússia, certamente o faz.
O que fez Bolsonaro configura crime de responsabilidade na opinião de três ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos por este blog no último final de semana. Nem a Casa Branca, nem o governo brasileiro desmentiu o que a Bloomberg apurou.
Crime de responsabilidade, de acordo com a Constituição, é motivo para que se abra um processo de impeachment contra quem o cometeu. Arthur Lyra (PP-AL), presidente da Câmara, coleciona mais de 100 pedidos de impeachment contra Bolsonaro.
Da gaveta onde eles repousam, nenhum jamais saiu ou sairá. Lyra e quase todos os deputados estão no bolso de Bolsonaro. No início do governo, dizia-se que os militares atuariam como curadores de um político que só “falava merda” (alô, general Augusto Heleno!)
Em troca de salários polpudos, mordomias e prestígio, os militares, hoje, batem continência à Bolsonaro e muitos apoiam seu plano de melar as eleições. Do meio do governo para cá, passou-se a dizer que Bolsonaro tornou-se refém do Centrão.
Aconteceu o contrário. Depende do dono da caneta mais cheia de tinta da República a liberação de dinheiro para o pagamento de emendas parlamentares ao Orçamento. Na prática, o Centrão foi que virou refém de Bolsonaro, e por isso não o despreza.
No dicionário dos políticos em geral, inexistem as expressões “afronta à soberania nacional”, “constrangimento”, “humilhação” e “vergonha”, todas perfeitamente aplicáveis à negociata sugerida por Bolsonaro a Biden. Falta também a expressão “negociata”.