O que Bolsonaro espera ganhar ao defender mais armas para o povo
Na contramão do que pensa a maioria dos brasileiros
atualizado
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Político não tem que compartilhar necessariamente a opinião da maioria das pessoas. Mas quando se candidata e quer se eleger, não pode ignorá-la sob pena de acabar derrotado. Ou adere ao pensamento da maioria ou então se cala e não se posiciona.
É para isso que eles encomendam tantas pesquisas em época de eleição, muitas delas pagas por bancos e empresários com os quais tem ligações. Comumente, é assim que procedem. Para serem aceitos, os pragmáticos falam o que os eleitores querem ouvir.
Lula, um dia desses, disse que é católico e contrário ao aborto. Mas disse também que o aborto é um grave problema social e, como tal, deve ser encarado. Seus adversários aproveitaram a fala para jogá-lo contra os evangélicos. Entre as mulheres, ele vence com folga.
Bolsonaro não se incomoda em defender ideias totalmente na contramão do que deseja a maioria dos brasileiros. Pode ter-se se dado bem numa eleição atípica como foi a de 2018, com o líder das pesquisas preso, e o povo com raiva de tudo e de todos.
Mas a deste ano será uma eleição normal, como a chamam os entendidos no assunto. Nada como uma facada poderá fazer a diferença. E quem estará em julgamento será ele, Bolsonaro, pelo que fez, deixou de fazer, e pelo que vier a prometer.
Ele insiste, por exemplo, em recomendar às pessoas que se armem a pretexto de se defenderem e de não serem escravas de ninguém. Porém, de cada 10 brasileiros, 7 rejeitam a tese de que o acesso às armas aumenta a segurança pública e garante a liberdade.
Particularmente entre as mulheres, os pretos e os que têm renda de até dois salários mínimos, segmentos onde Bolsonaro vai mal, a proposta de mais armas para quem quiser tê-las é impopular e lhe causa danos. E, no entanto, Bolsonaro insiste com ela.
Hoje, existem no Brasil 2,08 milhões de armas legais particulares, praticamente 1 para cada 100 habitantes, segundo dados de dezembro de 2020 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No Distrito Federal houve um crescimento de 562% em três anos.
É possível, mas não provável, que Bolsonaro desconheça tais números, ou que no país vigora o Estatuto do Desarmamento. Por que ele persevera em remar contra a maré? Só para beneficiar a parte mais radical dos seus devotos? Ela, sozinha, não o elegerá.
Por que então? Porque ele sonha com uma rebelião dos armados caso os resultados das urnas sejam adversos. Na verdade, o golpe jamais sairá do radar de Bolsonaro. Ele dorme e acorda com ele na cabeça. Não perde uma solenidade militar.
É de se ver se os generais, sem os quais não haverá golpe, estarão dispostos a bater continência para um ex-capitão banido do Exército por má conduta e derrotado ao tentar se reeleger.