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O país perde com Nikolas e outros insanos em ascensão na Câmara

Impossível que o próximo Congresso seja pior do que este

atualizado

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Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
O deputado federal Nikolas Ferreira, do PL de Minas Gerais
1 de 1 O deputado federal Nikolas Ferreira, do PL de Minas Gerais - Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Logo os profetas do caos proclamaram: o governo Lula foi derrotado mais uma vez com a escolha dos novos presidentes das comissões técnicas da Câmara dos Deputados. A derrota foi do país, haja visto o despreparo de alguns dos escolhidos.

Lula foi eleito sem maioria de votos no Congresso. A maioria, ali, é de direita, e uma parte dela de extrema-direita, bolsonarista. Essa é uma verdade inquestionável. Daí a adoção da velha fórmula franciscana do “é dando que se recebe”.

Nos anos 1980, sempre que o deputado Ulysses Guimarães (MDB-SP), o chefe da oposição à ditadura, ouvia alguém dizer que o Congresso era muito ruim, respondia em tom irônico: “É porque você ainda não viu o próximo”.

Ulysses, hoje, poderia, e com razão, ser contestado pelos incrédulos: o próximo Congresso não conseguirá ser pior que o atual, o mais poderoso da história, mas uma casa de gente desqualificada, corrupta e que só pensa no próprio bolso.

O maior partido da Câmara, o PL de Valdemar Costa Neto, que abriga Bolsonaro, prestou-se ao papel de aliado dele na tentativa de anular os resultados da eleição de 2002. Costa Neto foi um dos presos no caso do mensalão do PT.

Na hora de escolher os presidentes de comissões, diz o regimento da Câmara, o maior partido tem o direito de indicar quem quiser para comandar as que preferir. Nikolas Ferreira (PL-MG) ganhou a presidência da Comissão de Educação.

Ele é uma cópia jovem e escarrada de Bolsonaro, deputado por quase 30 anos: escandaloso, ignorante, só preocupado em aparecer fazendo barulho e criando factoides, um sem-ideias. Com uma diferença: essa é a receita que funciona agora.

Nós, jornalistas, nunca prestamos atenção em Bolsonaro porque ele era um político sem atributos, ou como ele diz: que falava para as paredes e seus colegas não levavam a sério. Bolsonaro jamais foi escalado para presidir uma comissão.

No seu primeiro mandato, Nikolas já foi. E como não se descarta que uma nova versão de Bolsonaro possa vir a ocupar no futuro o cargo mais importante da República, passamos a dar importância excessiva aos Nikolas e às Zambelli.

É a maneira que temos de acicatar Lula, de fazê-lo levar em conta o que achamos melhor para o país. O eleito foi ele, mas nossas opiniões deveriam pesar. De resto, somos donos das trombetas – perdão: empregados dos seus donos.

Já houve um tempo em que discutimos com entusiasmo os valores do jornalismo, para que ele deveria servir, coisas que tínhamos aprendido ou ouvido falar em salas de aula, na leitura de livros, em conversas com os mais velhos.

Não sei mais o que ensinam nas salas de aula. Sei que lê-se menos, têm-se menos tempo para apurar informações, as redações estão menores e repletas de jovens recém-formados, sobrecarregados e dependentes do Google e do celular.

O mundo gira e a Lusitana roda. Acima de tudo, hoje, o jornalismo presta-se a satisfazer as vontades dos algoritmos. Dir-se-á: as vontades dos algoritmos são ditadas pelo gosto do público. Que nada. É justamente o contrário, pode crer.

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