O novo candidato a pai dos que trabalham muito e folgam pouco
O ajuste de contas é a antessala do paraíso
atualizado
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Por que os que tentam interditar o debate sobre a redução da jornada de trabalho são justamente aqueles que não trabalham ou nunca trabalharam seis dias por semana com apenas um de folga? É o caso dos dirigentes de entidades patronais, economistas a seu serviço, parlamentares em geral e autoridades monetárias.
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, fantasiou-se de defensor dos interesses dos trabalhadores para tentar matar o debate no seu nascedouro. Pela terceira vez em menos de 10 dias, ele criticou a proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP) que reduz a carga horária de trabalho de 44 para 36 horas semanais.
Na semana passada, Roberto Campos Neto já havia dito que a proposta “é bastante prejudicial para o trabalhador porque vai aumentar o custo do trabalho e elevar a informalidade.” Ontem, em evento na Associação Comercial de São Paulo, onde foi homenageado, ele repetiu:
– Você voltar atrás nisso não vai ser bom para os empregados. Não estou falando das empresas, estou falando dos empregados. Você aumenta o custo da mão de obra, diminui a produtividade e vai com certeza aumentar a parte informal da economia.
Esqueceu ou não quis dizer para não irritar os que o escutavam que aumentos no custo da mão acabam sendo transferidos para o preço dos produtos. O distinto público é que paga a conta – afinal, os empregadores em toda parte não costumam diminuir sua margem de lucro. O capitalismo é assim, irmão!
A poucos meses do fim do seu mandato como presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que antes pesava as palavras que saíam de sua boca, deixou de pesá-las. Ficou mais parecido com o banqueiro que saiu de casa para votar nas eleições de 2022 vestindo uma camisa amarela da Seleção Brasileira.
Na Associação Comercial de São Paulo, ele elogiou as medidas de austeridade que vêm sendo implementadas na Argentina. Segundo Roberto Campos Neto, o país é hoje um exemplo de como políticas de contração fiscal podem gerar crescimento econômico, um movimento que normalmente não é esperado.
A propósito, aproveitou para dar uma aula sem citar o nome do presidente Javier Milei, conhecido como “El Loco”, para quem Lula fechou a cara na reunião do G20:
– No começo [após medidas de contração fiscal na Argentina], a economia não cresceu muito. Agora, está surpreendendo para cima porque a diminuição do prêmio de risco vale mais do que o dinheiro que você tirou de circulação por ter feito a contração [de gastos]
Não disse que o número de argentinos que vivem abaixo da linha da pobreza aumentou este ano e chegou a 15,7 milhões de pessoas. Foi a maior alta da pobreza nos últimos 20 anos. Roberto Campos Neto observou por fim que o corte de despesas a ser feito pelo governo Lula poderá gerar um impacto positivo na economia.