O jantar camarada de Lula com a fina flor da Brigadeiro Faria Lima
Ao invés da jararaca, o encantador de serpentes no melhor da sua forma
atualizado
Compartilhar notícia
Foi um jantar camarada. Não de camaradas, mas na base da camaradagem – Lula, tentando seduzir alguns dos banqueiros e empresários mais importantes do país; eles, visivelmente excitados por se reunirem com quem poderá se eleger presidente no próximo dia 2 ou no domingo dia 30, se houver segundo turno.
Lula não jantou a massa com recheio de alcachofra de entrada e o salmão com risoto servidos às mais de 100 pessoas que lotaram no bairro do Morumbi, em São Paulo, o apartamento de João Carlos Camargo, presidente do grupo Esfera Brasil, um local de eventos. Bolsonaro já esteve lá. Janja também não jantou.
Quando lhe deram a palavra, Lula pediu que os empresários falassem primeiro – e quatro deles o fizeram. Rapaz esperto, aos 76 anos de idade! Depois de saber sobre o que mais gostariam que ele falasse, Lula falou o que quis, e por isso não teve tempo sequer de provar a sobremesa de frutas vermelhas (viu o detalhe?).
Disse coisas do tipo:
“Eu e o José de Alencar (vice-presidente da República ao seu tempo), que não fizemos faculdade, fomos os dois homens que mais mandamos brasileiros para a universidade. Educação não é gasto. Qual o problema de emprestar para estudantes se os bancos emprestam dinheiro para empresários?”
“O sujeito que ganha com um discurso e governa com outro, está acabado. Falei isso para François Hollande, presidente da França, quando ele pediu para me encontrar, nem sei porquê. Eu disse: pendura a porra do discurso na parede e, todo dia, quando for se lavar, lê a caceta do discurso e cumpre.”
“(Sobre Geraldo Alckmin) Temos a maior experiência de todos os candidatos juntos. Só não me acostumei a chamar ele de Geraldo, só chamo de Alckmin.”
“(Sobre a eleição de 2018) Eles deixaram todo mundo apavorado. Aí elegeram um cara com 28 anos de mandato que dizia que não era político. Todo mundo era político, menos ele. Agora, quem semeia vento colhe tempestade. Não dá pra plantar soja e colher jabuticaba. Precisamos recuperar o país e por isso quero voltar.”
Foi aplaudido quando disse que o país voltará a ser respeitado no exterior. Foi aplaudido ao afirmar que é a favor de um superávit primário consistente. Não foi, ao repetir que é contra o teto de gastos, mas foi outra vez ao defender a reforma tributária. Lembrou que tentou fazer uma, mas que o Congresso se opôs.
Não se comprometeu com várias propostas que estão na agenda dos afortunados da Brigadeiro Faria Lima, avenida que é o centro financeiro de São Paulo e, por extensão, do país. Mas criou um clima bom com um público com o qual ainda não tinha se encontrado uma única vez desde o início da campanha.
É visível o esforço de Lula para liquidar a eleição daqui a quatro dias, e a sua preocupação com o último debate entre os candidatos a ser travado amanhã na TV Globo. “Serão 5 contra um”, comentou ele. “Um toureiro contra cinco touros furiosos”. Parte da plateia gargalhou nessa hora. Lula ganhou algum voto?
O voto dos garçons, possivelmente, já era dele. Se ganhou o voto de algum empresário ou banqueiro, não se sabe. Mas muitos deles foram embora com a certeza de que Lula não é mais a “jararaca” que disse ser meses antes de ser preso em 2018. Está mais para encantador de serpentes, como disse Ciro Gomes (PDT).