O guarda da esquina está de volta
Policial militar de Goiás prende professor que se recusou a tirar do capô do seu carro um adesivo com a mensagem: “Fora Bolsonaro genocida”
atualizado
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O Ato Institucional número 5, que em dezembro de 1968 fez a ditadura ainda branda tirar a máscara e revelar sua face mais cruel, causou assombro ao então vice-presidente Pedro Aleixo (PSD-MG).
Ele foi o único que votou contra a adoção do ato na reunião comandada pelo presidente Arthur da Costa e Silva, um general bonachão, que só lia palavras cruzadas e se dizia democrata.
Aleixo alegou na ocasião: “O problema de uma lei assim não é o senhor [Costa e Silva], nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”.
Acertou na mosca, como se viu a partir dali e até que a ditadura se esgotasse em janeiro de 1985. A anarquia agitou os quartéis. Os mais pavorosos crimes foram cometidos por soldados e generais.
Com uma democracia ainda plena, embora ameaçada por um ex-capitão afastado do Exército por indisciplina e órfão assumido da ditadura de 64, o guarda da esquina reapareceu.
Foi visto, ontem, em Goiânia, ao prender o professor da rede pública estadual e secretário estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) de Goiás, Arquidones Bites Leão.
Com a farda da Polícia Militar, o guarda exigiu que o professor retirasse do capô do seu carro uma faixa onde estava escrito: “Fora Bolsonaro Genocida”.
Como o professor não o fez, o guarda leu para ele um trecho da Lei de Segurança Nacional que proíbe ofensas ao presidente da República e a um grupo limitado de autoridades.
Em seguida, deu-lhe voz de prisão e levou-o preso para a sede da Polícia Federal, onde o professor foi interrogado e libertado mais tarde. O guarda de Goiânia tem fotos com Bolsonaro.
O que tanto Aleixo temeu à sua época começa a repetir-se 53 anos depois aqui e acolá.