O general que entrou de gaiato na história de Bruno e de Dom
Hamilton Mourão começa a fazer um par perfeito com Bolsonaro
atualizado
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Carente dos holofotes da mídia nacional por estar ocupado em tentar se eleger senador no Rio Grande do Sul, o vice-presidente Hamilton Mourão, que no passado corrigia as declarações insensatas de Bolsonaro, agora fez como seu chefe: atravessou a rua para pisar numa casca de banana que viu na calçada.
“Não sei se há um mandante”, ele disse a propósito do assassinato na Amazônia do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Se não sabe, poderia ter ficado calado. Nada se perderia com seu silêncio. Mas se ficasse, adeus espaço na mídia. Então, Mourão acrescentou:
“Se há um mandante, é comerciante da área que estava se sentindo prejudicado pela ação principalmente do Bruno, e não do Dom”.
Por que um comerciante? O general explicou, destacando o tipo de vida dura que levavam os possíveis assassinos, como se justificasse assim o que eles fizeram:
“Essas pessoas aí que assassinaram os dois são ribeirinhos, gente que vive também ali no limite de, vamos dizer, ter acesso à melhores condições de vida. Vivem da pesca. […] Essa é a vida do cara. Mora numa comunidade que não tem luz elétrica 24h por dia, é gerador. Quando tem combustível, o gerador funciona, quando não tem, não funciona. Então é uma vida dura”.
O mais desastroso na fala de Mourão foi ele ter dito que o alvo dos criminosos era Bruno, e que “o Dom entrou de gaiato nessa história. Foi efeito colateral”.
Gaiato quer dizer brincalhão, divertido. Ou leviano, malandro, sem responsabilidades. Entrar de gaiato, em linguagem informal, quer dizer sair-se mal, ser alvo de logro. Não se sabe se Dom era um sujeito divertido. Leviano, malandro e sem responsabilidade, definitivamente não era, segundo todos que o conheceram.
Dizer que ele “entrou de gaiato nessa história” é sugerir que Dom ignorasse o perigo de viajar por uma região entregue pelo governo aos cuidados de contrabandistas de madeira, garimpeiros, pescadores e caçadores ilegais, pecuaristas que avançam sobre reservas indígenas de terras. Dom não era um aventureiro.
Mourão, sim, é que é por aventurar-se em um ramo, o da política, com o qual nunca teve a menor afinidade. O Brasil e o mundo, acostumados a ouvir sandices de Bolsonaro, doravante prestarão mais atenção no general que começa a fazer par perfeito com ele. Talvez por isso se eleja.