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O fantasma da Lava Jato volta a assombrar a imprensa

Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém

atualizado

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1 de 1 imagem colorida mostra Deltan e Moro - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

Dizem à primeira vista que não havia grandes coisas nos documentos e materiais apreendidos na casa de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), em Angra dos Reis, e no apartamento e gabinete de trabalho do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), em Brasília.

Era como se Carlos e Ramagem estivessem preparados para receber a qualquer momento a visita da Polícia Federal. Ou são pessoas naturalmente cautelosas, é o mais provável, ou foram avisados que agentes federais bateriam às suas portas. Isso também é possível.

Falou-se a princípio que cerca de 30 mil pessoas teriam sido espionados pela Agência Brasileira de Inteligência (ou de intimidação) à época em que Ramagem, serviçal fiel da família Bolsonaro, a comandava. Falava-se agora em 1.500 pessoas, ou menos. A ver mais adiante.

Se fossem apenas 10 ou 100 seria crime do mesmo jeito, à espera de ser punido. Espionar adversários e aliados do presidente da República não é tarefa de um órgão oficial de informação em um país democrático. Salvo engano, o Brasil é um país democrático.

Falou-se que um computador da Abin teria sido encontrado entre os pertences de Carlos Bolsonaro. Quem falou pediu desculpas pelo erro. Mas não foi invenção do falante – foi informação dada a ele por fonte do governo que lhe pareceu bastante confiável.

Por sinal, esta é a diferença entre o jornalista que erra e o cara que cria ou repassa notícias falsas: o jornalista reconhece o erro, pede desculpas e se penitencia; o disseminador de notícias falsas morre dizendo que elas são verdadeiras.

A conversa divulgada pela Polícia Federal para apontar o uso da Abin por Carlos traz uma data em que Ramagem já não era mais diretor-geral da agência. Foi uma conversa em que Luciana Almeida, assessora de Carlos, diz estar “precisando muito de uma ajuda”.

A Polícia Federal deve uma explicação a esse respeito. O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, que apoiou a operação policial contra Carlos e Ramagem, também deve uma explicação. Assim como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, que a autorizou.

Quanto a nós, jornalistas, já passou da hora de recordarmos com que  entusiasmo engolimos tudo o que os promotores da Lava-Jato nos ofereceram como se fossem verdades inquestionáveis. Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

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