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O encontro de dois bons de gogó, marcos da história do Brasil

O que a política uniu e depois separou para novamente reaproximar

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Lula e FHC
1 de 1 Lula e FHC - Foto: reprodução

Não basta ser bom de gogó para que se consiga governar. Getúlio Vargas era ruim de gogó e governou o Brasil de 1930 a 1945 como ditador, e de 1950 a 1954 como presidente eleito pelo voto popular. Matou-se com um tiro no peito para não ser derrubado mais uma vez por um golpe militar. O golpe só ocorreu 10 anos depois.

Mas Juscelino Kubistchek era bom de gogó, Jânio Quadros, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula também, cada um e suas circunstâncias. Nenhum dos generais-presidentes da ditadura foi bom de gogó, mas eles tinham a força ao seu lado. O voto e a anarquia militar puseram fim à ditadura.

Atribui-se a Fernando Henrique uma frase que ele nunca disse, a de que teria governado pela primeira vez com o gogó. Da segunda vez, o gogó não bastou. O Plano Real, que o elegeu em 1994, perdera o encanto, o país já não estava bem, e seu candidato a presidente em 2002, José Serra, acabou derrotado por Lula.

Hoje, em São Paulo, Fernando Henrique será visitado por Lula. Em 1978, quando era um líder sindical na região do ABC paulista, Lula, então aos 33 anos de idade, fez campanha para eleger Fernando Henrique senador, participando de comícios e levando-o para distribuir panfletos na porta de fábricas.

Separaram-se politicamente dois anos depois, quando Lula fundou o PT e Fernando Henrique ficou no MDB, para em junho de 1988 destacar-se como um dos fundadores do PSDB. Não deixaram de ser amigos, embora Fernando Henrique tenha vencido Lula duas vezes. Em 2022, Fernando Henrique apoiou Lula.

No último volume dos “Diários da Presidência”, obra que ditou para um gravador durante seus oito anos de governo, Fernando Henrique diz que para negociar com o Congresso foi preciso “botar a mão na lama”. E explicou, sem descer a detalhes:

“Há setores políticos da base que são uma podridão. Esse é o problema do Brasil. Não é a maioria, mas os mais espertos dominam parte importante da maioria, e eles são partes do jogo brasileiro”.

“Não tenho preocupação com pessoas nem com o falso moralismo. Tenho que contar com o que existe aí. É botar a mão na lama para fazer adobe (tijolo) e construir uma casa. É complicado”.

Lula sabe exatamente o que Fernando Henrique quis dizer. Por oito anos, Lula também teve que pôr a mão na lama para governar com “o que existe aí”. Deu no que deu nos primeiros quatro anos – o escândalo do mensalão do PT. E nos seguintes, no petrolão. Pagou caro por isso.

Fernando Henrique sempre contou com a proteção do establishment; Lula, com a sua hostilidade. O establishment, ou parte dele, votou em Lula para livrar-se de Bolsonaro, a quem apoiou em 2018, acreditando que assim poria o último prego no caixão da esquerda. Ledo engano. O sapo barbudo voltou.

A esperança do establishment é que o prego possa ser batido em definitivo daqui a dois anos, sem Bolsonaro, mas com um nome da direita que se apresenta como civilizada. Esse deverá ser um dos tópicos da conversa de Lula com Fernando Henrique.

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