O discurso recusado por Bolsonaro de reconhecimento da derrota
O que poderia ter dito, mas não disse
atualizado
Compartilhar notícia
Uma vez que dizia jogar dentro das quatro linhas da Constituição, Bolsonaro, na noite de 30 de outubro do ano passado, deveria ter reconhecido sua derrota e telefonado para Lula desejando-lhe sorte. Era a praxe desde o fim da ditadura militar.
Era, se não fosse sua intenção dar um golpe, ou assistir a um golpe dado por aliados em seu favor. No dia 31, chegou-lhe uma sugestão de discurso enviada por Fábio Faria, seu ex-ministro das Comunicações. Ela dizia a certa altura:
“Eu sempre disse que o Brasil está acima de tudo e Deus acima de todos e que daria minha vida pelo Brasil. Por esse motivo, não contestarei o resultado das eleições”.
Bolsonaro só falou à Nação no dia 1º de novembro. Para dizer, sem reconhecer a vitória de Lula, coisas do tipo:
“Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro. Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral.
As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir.
A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade.
Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição.”
Recolheu-se ao silêncio até o dia 30 de dezembro quando viajou aos Estados Unidos. Durante esse período, fez consultas sobre a eventualidade de um golpe e esperou a adesão dos militares.