Autocrítica, o PT jamais fez ou fará. Poucos partidos já admitiram erros que cometeram. Lula disse que o PT é tão criticado que está dispensado de se autocriticar. Pode ser uma tirada inteligente, mas não passa disso. Não vale como desculpa.

Quando se sentiu ameaçado pelo escândalo do mensalão em meio ao seu primeiro mandato, Lula chegou a falar em renúncia num sábado à tarde, e seus companheiros convocaram às pressas o ministro José Dirceu, da Casa Civil, para demovê-lo da ideia.

Lula soube que o publicitário mineiro Marcos Valério, um dos personagens centrais do mensalão, havia dito que contaria tudo se não fosse ajudado. Foi ajudado (Lula sabe por quem), calou-se, e depois de condenado e preso ninguém quis mais ouvi-lo.

À época, a oposição preferiu deixar Lula sangrar com a certeza de que o derrotaria na eleição seguinte. Em discurso à nação, Lula contou que fora traído, mas não deu o nome dos traidores. Reeleito, passou a dizer que nunca houve mensalão. Deve saber o que faz.

Uma vez que o exemplo vem do alto, e que manda quem pode e obedece quem tem juízo, o PT insiste em defender o regime ditatorial e corrupto de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, e agora saúda a reeleição na Nicarágua de Daniel Ortega.

Onde o mundo inteiro enxerga uma farsa com quase todos os adversários de Ortega presos e uma abstenção de 80%, o PT vê uma “grande manifestação popular e democrática”, segundo nota oficial divulgada ontem. É cegueira deliberada ou o quê?

Ortega foi guerrilheiro e é membro da Frente Sandinista de Libertação Nacional que derrubou em julho de 1979 a ditadura de Anastasio Somoza. Elegeu-se presidente da Nicarágua em 1979, voltou ao cargo em 2006 e foi reeleito em 2011, 2016 e agora.

O nível de corrupção dos seus governos só aumenta, bem como o grau de violência. Fez da mulher vice-presidente, e dos filhos executivos das maiores empresas estatais do país. Eleições roubadas não o tornam menos ditador do que foi Somoza.