No país de “se a eleição fosse hoje”, ela só acaba no domingo, dia 6
No caso de São Paulo, para recomeçar depois da apuração dos votos
atualizado
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No início da campanha, dava-se como certo que Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, dificilmente se reelegeria no primeiro turno, mas tinha lugar assegurado no segundo. E que seu adversário no segundo deveria ser Guilherme Boulos (PSOL).
A profecia fazia sentido. O incumbente tem a máquina administrativa da prefeitura para alavancar sua candidatura. A isso, some-se dinheiro a rodo para empenhar em obras e a vitrine de suas realizações nos últimos quatro anos. De resto…
Nunes contaria com o apoio de Bolsonaro que indicou seu vice, um coronel, e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). A favor de Boulos, pesaria o apoio escancarado de Lula, que em 2022 derrotou Bolsonaro na capital paulista e por isso se elegeu.
Aí pintou no pedaço, sem apoio de ninguém a não ser dele mesmo, a candidatura inesperada do ex-coach Pablo Marçal (PRTB). E foi o que se viu e ainda se vê. Marçal estourou a boca do balão, como antes se dizia, segue na briga e nem de longe está morto.
A 10 dias das eleições, tanto para Nunes quanto para Boulos, o maior desafio é não ficar de fora do segundo turno. Se Nunes não ficar, disputará o segundo na condição de favorito. Contra Boulos, toda a direita votará em Nunes. Contra Marçal, parte da esquerda.
O debate entre os candidatos promovido, ontem à noite, pela TV Record, espelha a situação atual dos três líderes das pesquisas de intenção de voto. Nunes e Boulos foram os sacos de pancada escolhidos pelos demais. E Marçal terminou isolado.
Para quem esperava ou torcia para que rolassem sangue, lágrimas e insultos, foi um debate de morno para frio, ao contrário dos anteriores. Nunes limitou-se a contra-atacar, ignorando a maioria ou a quase totalidade das perguntas incômodas que lhe dirigiram.
Boulos atacou Nunes e defendeu-se ao se sentir provocado. Marçal estava irreconhecível para seus padrões, parecendo um candidato normal. Se boas propostas de governo vencessem debates, a ganhadora da noite teria sido Tabata Amaral (PSB).
Mas ela, Maria Helena (NOVO) e José Luiz Datena (PSDB) certamente perderão até domingo uma parcela dos votos que têm. Como aconteceu com os candidatos chamados “do meio” no primeiro turno da eleição de 2022; Ciro Gomes (PDT) que o diga.
Por delicadeza (embora “por delicadeza eu perdi minha vida”, escreveu o poeta francês Jean-Nicolas Arthur Rimbaud), Boulos não fala em voto útil para não irritar Tabata e Datena. Mas o eleitor não gosta de votar em quem acha que irá perder.
A candidatura de Marçal tirou Bolsonaro da campanha paulistana. Criador e criatura nunca se dão bem. O eleitorado bolsonarista dividiu-se entre Marçal e Nunes. Bolsonaro só voltará à campanha no segundo turno se for para derrotar Boulos.
Lula esteve presente na abertura da campanha de Boulos, mas recolheu-se depois; culpa de Marçal, que embolou a eleição. Esta semana, Lula deverá ir à posse da nova presidente do México. Não terá muito tempo para Boulos. O mundo clama por Lula…
Na era das redes sociais, tome tento: a campanha só termina quando as urnas finalmente são lacradas. As pesquisas de intenção de voto servem apenas como sinais que poderão ou não ser confirmados ou alterados em grande escala.