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Muito nobre o gesto do presidente Lula que, na manhã de hoje, pediu formalmente desculpas aos brasileiros por ter ido a São Paulo no último sábado pedir votos para a prefeita Marta Suplicy (PT), candidata à reeleição, durante a inauguração de uma obra pública.
Ele disse que se empolgou durante o discurso e que por isso fez o que fez:
“Fui falar de improviso na campanha. Se cometi erro, não gostaria, como presidente, de dar o exemplo. Peço desculpas se isso causou mal a alguém. Vou ser mais comedido daqui para frente.”
Lula mandou republicar a íntegra do discurso cujo trecho mais polêmico havia sido suprimido do site da presidência da República:
“Eu já tinha falado mesmo, não tem porque tirar do site o trecho do discurso.”
Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas não cola essa história de que Lula pediu votos para a prefeita durante a inauguração de uma obra pública apenas por “empolgação” ou porque decidiu falar de improviso, embora ele sempre arranje confusões quando fala de improviso.
Lula compareceu à inauguração com o propósito de favorecer a candidatura da prefeita. E o fez gastando dinheiro público, mobilizando servidores públicos e aparentemente violando a lei. Se não corresse o risco de ver sua atitude interpretada como uma clara violação à lei, Lula não se apressaria a pedir desculpas.
Se o episódio acabar por aqui, prefeitos, secretários de municípios ou de Estados, ministros e demais servidores públicos continuarão liberados para proceder como Lula procedeu – basta que depois peçam desculpas.
Para evitar que o comportamento do presidente seja imitado, no mínimo o Tribunal Superior Eleitoral deveria adverti-lo publicamente.
(Publicado aqui em 22 de setembro de 2004)