Seria impossível o PT se recuperar de uma hora para a outra. Há quatro anos, o partido estava ao rés-do-chão porque seu  líder incontestável ainda carregava o trauma de ter ficado 580 dias preso em Curitiba, e seguia condenado. Sua condenação só foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal em abril de 2021, meses depois das eleições municipais do ano anterior.

Lula candidatou-se à presidência da República derrotando Bolsonaro, o único presidente no exercício do cargo que não se reelegeu. Foi a eleição mais dramática a que o país assistiu. Nunca houve nada parecido. Bolsonaro a perdeu, muito mais do que Lula a ganhou. Mas o PT elegeu a segunda maior bancada de deputados federais – nada mal para ele, convenhamos.

Dizem que Lula colherá sua pior derrota se Guilherme Boulos (PSOL) não se eleger prefeito de São Paulo. Deve-se à importância de São Paulo, a maior cidade da América Latina? A isso e ao empenho de Lula em eleger Boulos? Não se dizia até um dia desses que Lula não se empenhou para eleger Boulos? O que dizer então de Bolsonaro, que perdeu no seu berço eleitoral, o Rio?

O que dizer de Bolsonaro, cujo candidato a prefeito de Angra dos Reis, onde tem sua casa de veraneio, foi derrotado? Derrotas e vitórias carecem de explicações menos superficiais. Principalmente as municipais, com suas particularidades. Quem votou para presidente em um nome, não vota, necessariamente, dois anos depois, no candidato a prefeito apoiado por aquele mesmo nome.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) era o presidente da República em 1996, mas quem se elegeu prefeito em São Paulo foi Celso Pitta (PPB), apoiado por Paulo Maluf. No primeiro turno, o candidato do partido do presidente, José Serra (PSDB), ficou em terceiro lugar, atrás de Luiza Erundina (PT). Reeleito presidente, Fernando Henrique viu seu partido colher outra derrota em 2000.

Geraldo Alckmin (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo, ficou em terceiro lugar. Elegeu-se Marta Suplicy (PT), que venceu Paulo Maluf (PPB) com quase um milhão de votos a mais. Lula era presidente quando José Serra (PSDB), em 2004, se elegeu prefeito de São Paulo, derrotando Marta. Lula seguia presidente quando Gilberto Kassab (DEM) se elegeu prefeito em 2008.

Dilma, presidente, pôde comemorar em 2012 a eleição de Fernando Haddad (PT) para prefeito de São Paulo. Mas em 2016, já afastada do cargo por meio de um processo de impeachment, ela e o PT amargaram a derrota de Haddad que tentou se reeleger, perdendo para João Doria (PSDB) no primeiro turno. Cada eleição tem sua história e nada é tão simples como possa parecer.

Em Goiânia, por exemplo, a eleição para prefeito no segundo turno será disputada por Fred Rodrigues (PL), apoiado por Bolsonaro, e Sandra Mabel (União-Brasil), apoiado pelo governador Ronaldo Caiado. O PT, que apoiou Adriana Accorsi, a terceira colocada, deverá apoiar Mabel. Caiado já declarou que disputará a sucessão de Lula e que espera contar com a ajuda de Bolsonaro. Que tal?