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Mauro Cid, o garoto de ouro do Exército, era de vidro e se quebrou

Nada aprendeu como militar. Nada esqueceu

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Ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, deixa Superintendência Regional da PF, em Brasília, após exame de corpo de delito
1 de 1 Ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, deixa Superintendência Regional da PF, em Brasília, após exame de corpo de delito - Foto: null

Um criminoso sabe que o é, mas continuará negando mesmo se for localizado e preso. Mesmo que não possa mais negar nada. Se condenado, insistirá que é inocente. As penitenciárias estão abarrotadas de inocentes, salvo uns poucos que, por desesperança, reconhecem a culpa.

Só confessam o crime os que esperam extrair alguma vantagem disso. É o caso, por exemplo, dos ex-policiais militares Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa. Queiroz pilotou o carro de dentro do qual Lessa atirou e matou a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes

É o caso também do tenente-coronel Mauro Cid, o garoto de ouro do Exército, primeiro-lugar em todos os cursos que fez, filho de um respeitado até então general da reserva, elogiado por seus superiores, e destinado a ser promovido no futuro próximo a general de quatro estrelas.

Como a Polícia Federal reuniu provas irrefutáveis de que ele, na condição de ajudante-de-ordem de Bolsonaro, participou do golpe para instalar uma ditadura no Brasil, do roubo de joias do Estado e da falsificação de atestados de vacina, só  restava a Mauro Cid delatar, e assim  foi.

Queiroz e Lessa delataram em troca de proteção para suas famílias e de melhores acomodações nos presídios que os abrigam; Mauro Cid, em troca de uma pena mais branda, e de a justiça esquecer que sua mulher e seu pai envolveram-se nos crimes por ele cometidos.

A mulher fez proselitismo a favor do golpe e empenhou-se em arranjar dinheiro para financiar o acampamento dos golpistas à porta do QG do Exército, em Brasília. O pai, a pedido de Mauro Cid, cuidou das joias enviadas para serem vendidas nos Estados Unidos.

O apurado com a venda das joias encheria de dinheiro os bolsos de Bolsonaro. Os atestados falsos de vacinação contra a Covid permitiriam que Bolsonaro e Laura, sua filha adolescente, circulassem no exterior livremente sem sofrer eventuais constrangimentos.

Bolsonaro nega até hoje que tenha se vacinado. Quanto à filha, disse uma vez que ela não seria vacinada. Mauro Cid entregou em mãos de Bolsonaro os atestados falsos que Bolsonaro lhe encomendou. Aproveitou para falsificar outros atestados com o seu e o nome de sua mulher.

Tratado pelos amigos como leproso e pelos companheiros de farda como dedo duro, engordou 10 quilos desde que delatou, segundo seu advogado. Teria sido por isso, e só por isso, que, “agoniado”, carente de apoio, “desabafou” com um dos poucos amigos que lhe sobraram.

No desespero, acusou agentes federais e o ministro Alexandre de Moraes de desvirtuar o que ele disse em depoimentos, pondo em sua boca coisas que ele não disse. Por fim, ontem, desautorizou seu próprio desabafo, afirmando que está de pé e que é verdade tudo o que contara antes na delação.

Foi preso pela segunda vez – a primeira aconteceu ao retornar dos Estados Unidos para onde se evadiu Bolsonaro, de modo a testemunhar de longe a tentativa amadora do golpe de 8 de janeiro do ano passado. Mauro Cid não faz a mínima ideia de até quando permanecerá preso.

Talvez se veja obrigado a revelar novas informações que por enquanto guardava para si. Talvez a Polícia Federal não precise delas ou não queira mais ouvi-las. Se Moraes achar por bem anular a delação, irá pelo ralo o acordo para poupar Mauro Cid de uma pena robusta.

Em resumo: o garoto de ouro do Exército era de vidro e se quebrou.

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