Marília Mendonça viverá para sempre, ele não
A meteórica carreira da artista que já entrou para a história da música popular brasileira
atualizado
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A mulher pode tudo o que quiser, e mais além. Foi isso, e mais as suas dores e frustrações que Marília Mendonça cantou, a voz mais ouvida do Brasil, calada para sempre quando o jato em que viajava chocou-se com um cabo de alta tensão a 4 quilômetros do aeroporto de Caratinga, interior de Minas Gerais.
A mulher traída está em Infiel, o maior sucesso de sua curta carreira. A amante, em Como faz com ela e Amante não tem lar. A prostituta, em Troca de Calçada. Supera exalta a força da mulher, sua capacidade de resistir e de dar a volta por cima. Os versos de Marília eram simples, mas tocantes e sinceros.
Marília e sua mãe, de 53 anos, foram exemplos de superação. Não faz tanto tempo assim, frequentavam todas as festas possíveis para comerem mais e melhor. Marília começou a compor com 12 anos de idade. Aos 17, já fazia sucesso na boca de outros cantores. Aos 21, vendia 240 mil cópias do seu primeiro DVD.
Ela não conheceu fracassos, algo comum na carreira da maioria dos artistas. Seu segundo álbum, Realidade, lançado em 2017, recebeu uma indicação ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Música Sertaneja. Dois anos depois, o Melhor Álbum de Música Sertaneja no Grammy foi o seu Todos os cantos.
Sabe os Beatles? No Spotify, Marília tinha mais seguidores do que eles. No Instagram eram mais de 37 milhões até a hora em que foi anunciada a sua morte. A música sertaneja, antes dela, era coisa de homens e de poucas mulheres. Ao entrar em cena, Marília tornou-se a dona inquestionável do pedaço. Não tinha para ninguém.
Em um meio em que seus colegas de música e público têm uma forte queda por Bolsonaro, Marília ousou participar do movimento Ele não nas eleições de 2018. Coagida e ameaçada, recuou, pediu desculpas e foi perdoada. Sua obra atravessou incólume e sobreviverá ao triste tempo de extremismo que sufoca o país.
Ela ficará, e ele não.