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Lula tem a obrigação de expressar seu ódio e nojo a ditaduras

A eleição presidencial do ano que vem será sobre a democracia que Bolsonaro só faz enfraquecer

atualizado

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Ricardo Stuckert/Reprodução/Instagram
Lula faz sinal de positivo em frente às bandeiras da Alemanha e da União Europeia
1 de 1 Lula faz sinal de positivo em frente às bandeiras da Alemanha e da União Europeia - Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução/Instagram

Se não outras, há pelo menos duas pedras a serem removidas ou polidas no discurso que Lula tem feito como aspirante a candidato à presidência da República pela sexta vez. Uma: o combate à corrupção. A outra: o combate às ditaduras, não importa a cor.

Não dá para dizer, e com razão, que Bolsonaro ameaça a democracia entre nós e fechar os olhos às ditaduras de direita ou de esquerda que empestam o mundo. Não basta dizer que o PT jamais pretendeu implantar uma ditadura no Brasil.

Aos 76 anos, Lula já provou do bom e do pior da vida para se sentir prisioneiro de ideias que defendeu por conveniência para só assim alcançar e manter-se no poder. Ou apenas para pagar favores que recebeu em momentos delicados de sua trajetória.

Kadafi, ditador da Líbia, ajudou-o a certa altura– mas Kadafi morreu linchado por seu povo. Hugo Chávez, presidente da Venezuela, ajudou-o – mas Chávez morreu. Fidel Castro, ditador de Cuba, ajudou-o – mas Castro está morto.

Ensina um ditado popular, execrado em tempos politicamente corretos, que só doido tem ideia fixa, quem não é doido muda de opinião. Lula nunca foi de esquerda como reconhece a direita civilizada. Não tem porque não atualizar o que pensa e diz.

Em uma de suas primeiras reuniões de governo como presidente eleito em 2002, ele falou aos seus ministros no Palácio do Planalto, e não brincava: “Toda vez que fui pela esquerda me dei mal”. Cito a frase de memória. Ela foi reproduzida por Gilberto Carvalho.

Antes mesmo de assumir o cargo, em um hotel na cidade de São Paulo, na presença de José Dirceu e de membros do estado maior de sua campanha, Lula havia advertido: “Aqui, somente eu e José de Alencar [o vice-presidente] fomos votados. Mais ninguém”.

Por sinal, Chávez meteu-o numa arapuca quando em 2009 quis reintroduzir na presidência de Honduras Manuel Zelaya, deposto ao tentar dar um golpe. Zelaya apareceu de surpresa na embaixada do Brasil. E Lula, apesar de contrariado, abrigou-o.

Em entrevista ao jornal El País, na semana passada, Lula pregou a não intervenção em assuntos internos de outros países ao ser perguntado sobre a Nicarágua do ditador Daniel Ortega. No seu governo, o Brasil interveio em assuntos internos de Honduras.

A propósito de Ortega, é fato que Lula censurou-o por ter sido reeleito pela quarta vez com sete dos seus adversários atrás das grades. Ocorre que em seguida vacilou ao observar que Angela Merkel governa a Alemanha há 16 anos e ninguém reclama.

Ora, ora, ora… Merkel nunca mandou prender quem se lhe opôs. O parlamentarismo prevê sucessivas reeleições e a troca de primeiros ministros a qualquer momento. Ortega é um ditador, Merkel não. A comparação não tem pé nem cabeça.

Cuba é uma ditadura, goste-se disso ou não, e os cubanos não parecem gostar. Provocado a respeito, Lula preferiu condenar o bloqueio americano a Cuba. Poderia tê-lo feito, ao mesmo tempo em que criticasse a mais antiga ditadura que há no mundo.

A eleição presidencial de 2022 será antes de tudo sobre o destino da democracia no Brasil. Ou Lula se credencia como o candidato mais capaz de restaurá-la plenamente depois do que Bolsonaro tem feito para enfraquecê-la, ou simplesmente ficará para trás.

Está faltando dizer também como se dará o combate à corrupção, uma das chagas de todos os governos da história do país desde o período colonial. A decisão do Supremo Tribunal Federal de devolver-lhe a elegibilidade não lhe dá passe livre para calar-se.

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