Lula só não terá maioria na Câmara se não quiser, diz Arthur Lira
Ecos do aniversário de 93 anos do ex-presidente José Sarney
atualizado
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Vestido preto no armário, sofá branco na sala e José Sarney no poder têm algo em comum: funcionam. Que não se espere deles surpresas. Mas como seria difícil imaginar o mundo sem eles…
É por isso que Sarney pode dar-se ao luxo de repetir que já se aposentou da política, que não se mete mais em nada e que lhe atribuem uma importância que já não tem.
Sarney pertence à categoria das coisas básicas. Como o vestido preto e o sofá branco. E, ao completar 93 anos de idade, não dá qualquer sinal de que deseje renunciar a tal condição.
No dia do seu aniversário, comemorado com uma festa em sua casa que atraiu as estrelas mais reluzentes da República, ele acordou com um telefonema de parabéns de Lula.
O telefonema seguinte foi do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No passado, quando Sarney era presidente e viajava para o exterior, Fernando Henrique dizia: “A crise viajou”.
Frase injusta. Sarney, como Lula, como o próprio Fernando, é especialista em desinflar crises. Elas entravam grandes nos seus gabinetes e saíam pequenas. Com Bolsonaro foi o contrário.
Michel Temer não telefonou para Sarney. Preferiu voar de São Paulo a Brasília para comparecer à festa. Não se sabe se os ex-presidentes Fernando Collor, Dilma e Bolsonaro telefonaram.
Só Sarney seria capaz de juntar esquerda, direita e centro num mesmo espaço sem risco de provocar confusão. Geraldo Alckmin, presidente em exercício, demorou mais de três horas por lá.
Alexandre de Moraes, também, como o ministro Dias Toffoli, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o astronauta Marcos Pontes, senador bolsonarista, e deputados de todos os partidos.
O senador Sergio Moro estava sendo esperado, mas não apareceu até as 23h. Apareceu o ministro Flávio Dino, da Justiça, que se elegeu governador do Maranhão como adversário dos Sarney.
Arthur Lira, presidente da Câmara, chegou mais tarde. E foi ele que, numa roda de amigos, confidenciou: sim, Lula só depende de Lula para contar com o apoio da maioria dos deputados.
Segundo Lira, Lula quer negociar no atacado o apoio da Câmara aos projetos do governo, mas os deputados só querem negociar no varejo, ponto a ponto, voto a cargo, e liberação de emendas.
Uma parte dos deputados até já se conforma em votar em troca de cargos de terceiro ou quarto escalão. Mas Lula insiste em falar em apoio global, em nome dos superiores interesses do país.
Lira diz que fará tudo que estiver ao seu alcance para garantir a governabilidade do país, e blá-blá-blá. Porém, não depende só dele. No próximo ano haverá eleições outra vez. Sabe como é…
A festa de aniversário de Sarney celebrou a democracia, demonizada nos últimos quatro anos, que quase foi a pique e que ainda capenga. Somente ele poderia tê-la promovido.
Vestido preto no armário, sofá branco na sala, Sarney sem desgrudar da política… São coisas que funcionam.