Lula, o retorno
Texto originalmente publicado em 29 de outubro de 2007 e hoje republicado para marcar os 20 anos do blog
atualizado
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Era só o que faltava. Queriam o quê? Que Lula admitissse desde já sua intenção de governar o país pela terceira vez – a partir de 2011 ou de 2015? Ou que se cale conivente quando deputados amigos dele prometem apresentar emenda à Constituição garantindo ao presidente da República o direito de se reeleger mais de uma vez? Lula fez o certo.
E o que foi? Repetiu como se cumprisse um dever o que parece ter decorado: “Discutir 2010 agora é um atraso. Acho que essa discussão não cabe. Acho que o Brasil não precisa disso. A alternância de poder é uma coisa extremamente importante para o fortalecimento da democracia”. E ainda acrescentou, modesto e realista: “Esse negócio de achar que tem pessoas que são imprescindíveis e insubstituíveis não existe na política”.
No início dos anos 60 do século passado, em meio à campanha para presidente da República pela UDN, Jânio Quadros renunciou à candidatura. Fê-lo para se fortalecer e continuar candidato. Deu certo. Uma vez eleito, renunciou à presidência depois de governar por seis meses. Fê-lo com a pretensão de voltar ao cargo munido de poderes excepcionais e com um Congresso submisso. Aí deu errado. Era um pouco demais.
Quando Itamar Franco escolheu Fernando Henrique Cardoso para candidato à sua sucessão, obteve dele a garantia de que jamais mexeria um dedo para se reeleger. Mexeu os cinco. O Congresso aprovou emenda permitindo sua reeleição. Fernando Henrique ganhou o segundo mandato com a promessa de criar mais empregos e de manter o real valorizado. Desvalorizou-o em seguida.
Em 2004, José Serra afirmou por escrito que não largaria pelo meio o mandato de prefeito de São Paulo para ser candidato ao governo. Registrou o compromisso em cartório. Elegeu-se prefeito. E depois largou o mandato pelo meio para se eleger governador. Está para nascer o político que, podendo conservar o poder, abre mão dele. De resto, a eleição de Lula serviu para mostrar que ele é um político igual aos outros.
Há quase dois meses, em conversa com o ministro Mares Guia, das Relações Institucionais, Serra mandou um recado para Lula: topa apoiar o fim da reeleição com a ampliação para cinco anos do mandato presidencial. Comentou que não fará uma campanha com críticas ao governo caso venha a ser o candidato do PSDB a presidente da República. “Farei uma campanha voltada para o futuro”, antecipou.
O governador mineiro Aécio Neves não perde uma chance de alertar seus colegas de PSDB: “Temos que vencer em 2010 porque Lula voltará como candidato na eleição seguinte”. A exemplo de Serra, ele se conforma com o fim da reeleição e o mandato presidencial de cinco anos. Seria o preço a ser pago para exorcizar o fantasma do terceiro mandato consecutivo de Lula.
As últimas cinco eleições presidenciais ocorreram em torno de Lula. Nada indica que será diferente com as duas próximas. Ou três. Ou mais.