Desafetos de Lula dizem que ele é um homem de muita sorte. Só um homem de muita sorte seria capaz de acumular tantas notícias favoráveis em período tão curto de governo. Eles dizem isso não para elogiar Lula, mas para empalidecer seus feitos.

De casco endurecido pela vida que fez do miserável migrante nordestino presidente da República por três vezes, Lula finge ignorar a crítica e vai em frente. Se fosse verdade que lhe falta competência para governar, sobra-lhe sorte. Está de bom tamanho.

Se Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, o achaca pedindo mais poder para o Centrão em troca de apoio, Lula conta com a compreensão da maioria do Senado e do Supremo Tribunal Federal. O início desta semana foi promissor para ele.

O Supremo formou maioria de votos para dizer que o PIS/Cofins deve incidir sobre toda a atividade empresarial, porque a seguridade social é financiada não só pelo faturamento, mas também pela receita das empresas. Vitória da União. Sorte de Lula.

De acordo com o Ministério da Fazenda, as perdas, em caso de derrota, seriam de R$ 115 bilhões em arrecadação. A maioria dos ministros seguiu o voto de Dias Toffoli. Na prática, a decisão mantém o que já vinha sendo aplicado pelo governo federal.

O caso chegou ao Supremo em 2010 e começou a ser julgado em dezembro do ano passado. Como tem a chamada repercussão geral, o entendimento do tribunal valerá para todas as ações semelhantes em trâmite no Judiciário. Lula é um homem de sorte.

Limitou-se a uma fatia da imprensa a crítica feroz à indicação do advogado Cristiano Zanin para ocupar a vaga no Supremo do ex-ministro Ricardo Lewandowski. A favor dele, já trabalham os ministros bolsonaristas André Mendonça e Nunes Marques.

A economia global tem dado a Lula uma ajuda inesperada. Na virada do ano, boa parte dos analistas esperava uma atividade mundial mais fraca. A conjuntura positiva deve fazer com que o Brasil feche o ano com um bom resultado na balança comercial.

Agora, uma parte dos bancos prevê um superávit acima de US$ 70 bilhões em 2023, o que seria um recorde. Foi superado o medo gerado pela tentativa de golpe em janeiro. O governo atravessou em paz as eleições para os comandos da Câmara e do Senado.

Estão de volta os programas Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Farmácia Popular e Mais Médicos. O Desenrola, programa que beneficiará famílias com renda de até dois salários-mínimos e dívidas de até 5 mil reais, afinal começou a ser desenrolado.

O “arcabouço fiscal” deverá ser aprovado pelo Congresso tal como foi projetado pelo governo, ou parecido. Bem como a reforma tributária que o ministro da Fazenda negociou com todos os entes nela envolvidos. Só o PT não fala bem de Fernando Haddad.

Antes um solitário na cobrança por uma taxa de juros menor, Lula ganhou a companhia de vários setores da economia que só têm a perder se ela não cair. Lula faz acenos ao agronegócio, que em peso votou em Bolsonaro. O agronegócio devolve os acenos.

Em falta há mais de quatro anos, o que o país mais deseja é o retorno de um governo normal; se possível, dotado de sorte.