Eu sou eu e a minha história de 73 anos. Dispensada a idade, a frase se aplica a qualquer um, vivo ou morto. O que Lula diz e faz reflete o que ele viveu e como, e não pode ser examinado à luz de qualquer outra coisa. É assim que caminha a humanidade.

Lula é culpado por ter sido condenado e preso por 580 dias, culpado porque a Justiça o soltou, culpado por disputar a Presidência da República seis vezes, culpado por ter sido eleito, reeleito e eleito de novo, e culpado pelo golpe de 8 de janeiro.

Do que mais é culpado? Tem sorte porque derrotou Bolsonaro, sorte porque tomou posse, sorte porque o golpe fracassou, sorte porque o país não foi para o brejo como muitos diziam que iria, sorte porque a inflação caiu e a economia melhorou.

É culpado porque não deu mais espaço no governo às correntes de opinião do centro e da direita que o apoiaram. Agora que se prepara para dar, é culpado por ceder espaço ao Centrão, rendendo-se à política nefasta do “é dando que se recebe”.

Sim, é culpado também por não ter estudado e se formado como certamente desejava sua mãe, dona Lindu, que criou os muitos filhos com dificuldades, mas não conseguiu evitar que em alguns momentos passassem fome. Lula tem diploma de metalúrgico.

Vez por outra, Lula derrapa com alguma declaração que faz. Quem não? Derrapou ao falar em democracia relativa para justificar a ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela. Corrigiu-se ao cobrar da Venezuela eleições justas e limpas, mas isso não importa.

Será lembrado pela derrapagem e esquecido pela correção. Será lembrado porque sugeriu uma trégua na guerra da Ucrânia, o que à primeira vista beneficiaria a Rússia invasora. Não será lembrado porque limitou-se a seguir os passos do papa Francisco.

Papa? O argentino que evitou visitar o Brasil enquanto Bolsonaro foi presidente? Francisco e Lula têm algo em comum para bolsonaristas de raiz e os envergonhados: são comunistas que negam que são. E, no caso do papa, até pior: peronista. Que nojo!

Lula agradeceu o que os africanos fizeram pelo Brasil durante os séculos de escravidão. Não foi isso o que queria dizer, alguém letrado sabe, mas foi isso o que disse o iletrado, exausto, de volta de uma viagem à Europa. É culpado, pois, pelo disparate.

Afinal, na era das redes sociais que orientam a imprensa, vale o que disse, foi registrado em vídeo e todo mundo pode ver. E assim caminha parte infame (e, tomara, ínfima) da humanidade.