Lula e Alckmin, até que os una o segundo turno da próxima eleição
Um não tem pressa, o outro tem
atualizado
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Em 2018, Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência da República, amargou pouco menos de 5% dos votos válidos no primeiro turno. Ao reconhecer a derrota, disse ter percorrido com humildade “os quatro cantos do país, dialogando com a população” – que pelo jeito não o ouviu, ou se ouviu não gostou.
Quatro anos depois, quantos votos Alckmin carrega no matulão que possam ser transferidos para Lula, caso se convença de que deve ser seu vice, e caso Lula também se convença disso? Alckmin não está para Lula na próxima eleição como o empresário mineiro José de Alencar esteve para Lula na eleição de 2002.
Há quase 20 anos, Lula precisou fazer um aceno para convencer a direita de que não governaria pela esquerda, se fosse eleito. O aceno passou pela escolha de Alencar para vice, mas, antes de tudo, pela carta aos banqueiros, chamada de “carta aos brasileiros”, na qual ele se comprometia a respeitar as regras do mercado.
Alencar em nada apitou no período de Lula na Presidência. De início, acumulou a Vice-Presidência com o Ministério da Defesa, um agrado e reconhecimento pelo serviço prestado. De vez em quando, falava contra os juros altos e Lula fingia escutá-lo. Foi menos influente do que pareceu. Alckmin seria mais influente?
Se dependesse dos donos do poder, Lula teria voltado à Presidência ao fim do primeiro mandato de Dilma. Imploraram para que voltasse, e Lula pensou em voltar, mas Dilma bateu o pé e invocou seu direito à reeleição. Se Lula pôde se reeleger, por que ela não poderia? Reelegeu-se e depois foi o que se sabe.
Cada eleição é diferente da outra. Lula tem dado frequentes indicações até aqui de que se apresentará como um candidato de centro e que, se eleito, será pelo centro que governará. Quem não quiser acreditar que não acredite. Contudo, por mais que pretendesse reencarnar Lulinha paz e amor, não poderia fazê-lo.
Simplesmente porque Bolsonaro o impedirá de proceder assim. A campanha será dura e sangrenta, bem ao gosto de Bolsonaro. Jairzinho paz e amor dará lugar ao Bolsonaro de arma na mão, do contrário ele ficará de fora do segundo turno. Conservador por natureza, o eleitor de Alckmin ficará com Bolsonaro, não com Lula.
Alckmin de vice pode interessar a ele, que, embora favorito nas pesquisas, sabe que terá uma eleição difícil para governador, e interessa também a Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) que se veriam livres de um forte concorrente. João Doria (PSDB) jogará pesado a favor de Rodrigo Garcia, candidato a sucedê-lo.
Lula anunciará sua candidatura em março ou abril. Como antes disso preencheria a vaga de vice em sua chapa? E como Alckmin esperaria até lá para decidir o seu destino? É mais fácil os dois estarem juntos no segundo turno do que no primeiro. A aproximação está em curso desde agora e é boa para ambos.
Uma mulher para vice de Lula. As mulheres rejeitam mais Bolsonaro do que os homens.