Lula diz que o Brasil é maior do que os que tentam destruí-lo
Em viagem à Europa, o ex-presidente afirma que a Amazônia é nossa, mas que seus benefícios podem ser compartilhados com o mundo
atualizado
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Em maio de 1970, diante de uma plateia de 10 mil pessoas em Paris, dom Hélder Câmara, então arcebispo de Olinda e Recife e candidato ao Prêmio Nobel da Paz, denunciou o que o mundo começava a ouvir timidamente: que a ditadura militar brasileira de 64 sequestrava, torturava e até matava seus opositores.
O “bispo vermelho”, como a ele se referiam com ódio os generais e seus porta-vozes, foi acusado pelo crime de falar mal do Brasil no exterior. Pagou caro por isso e por pouco escapou a um atentado. À época, não havia nome próprio para o que hoje se chama cancelamento, mas foi de fato o que lhe aconteceu.
Por ordem da censura, seu nome foi proibido de ser citado em jornal, rádio e televisão. Quem o fizesse seria punido. Somente nove anos depois, pôde-se voltar a falar dele, mesmo assim com restrições. Para quem a palavra era o instrumento de trabalho, foi como se ele tivesse morrido e finalmente ressuscitado.
Não foi sobre o Brasil que dom Hélder falou, mas sobre a ditadura que desrespeitava os direitos humanos. Assim como em sua primeira viagem à Europa desde que foi preso e libertado 580 dias depois, não é sobre o Brasil que fala o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas sobre o pior governo da história do país.
Avalia-se no entorno do presidente Jair Bolsonaro se seria o caso de partir para o ataque a Lula, acusando-o de manchar a imagem do Brasil lá fora. O ministro Onyx Lorenzoni, do Trabalho e Previdência, é a favor. O chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, contra. O das Comunicações, Fábio Faria, prefere deixar para lá.
Hoje, em Paris, Lula será recebido em audiência pelo presidente Emmanuel Macron, cuja mulher já foi chamada de feia por Bolsonaro. O que Lula tem dito sobre a Amazônia soa bem aos ouvidos dos chefes de Estado da Europa: “A Amazônia é do Brasil, mas seus benefícios podem ser compartilhados com o mundo”.
Soa bem a defesa da ratificação do acordo entre o Mercosul e a Comunidade Econômica Europeia firmado há dois anos, mas que por culpa de Bolsonaro não saiu do papel. Não sairá enquanto o Brasil não der provas de sua real disposição para cuidar bem do meio ambiente. Com Bolsonaro será impossível.
Lula foi aplaudido de pé pela ala social democrata do Parlamento Europeu enquanto Bolsonaro peregrina por ditaduras do Golfo Pérsico a repetir que a floresta amazônica não pega fogo porque é úmida. Lula reuniu-se com Olaf Scholz, futuro chanceler alemão. Bolsonaro, na Itália, pisou no pé da chanceler Angela Merkel.
Ouviu de Merkel: “Só podia ser você”. E em vez de desculpar-se, depois de trocar dois dedos de prosa com ela, foi embora encantado porque Merkel o reconheceu. Como não reconhecer o presidente que abriu a Assembleia Geral da ONU elogiando o tratamento contra a Covid à base de cloroquina?
“Apesar de tudo, o Brasil tem jeito”, disse Lula em mensagem sobre o 7 de Setembro deste ano, e voltou a dizer em Paris há dois dias, onde acrescentou: “O Brasil é muito maior do que qualquer pessoa que tente destruí-lo”. Quem não tem jeito é Bolsonaro e seu bando infame.