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Lula chama de terroristas os ataques do Hamas contra Israel

Uma inflexão na política externa do Brasil

atualizado

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Hani Alshaer/Anadolu Agency via Getty Images
O braço armado do Hamas, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam seguram uma bandeira palestina enquanto destroem um tanque das forças israelenses na Cidade de Gaza
1 de 1 O braço armado do Hamas, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam seguram uma bandeira palestina enquanto destroem um tanque das forças israelenses na Cidade de Gaza - Foto: Hani Alshaer/Anadolu Agency via Getty Images

Se você descreve como “terrorismo” os ataques do grupo islâmico extremista Hamas contra civis em Israel, você está chamando os autores da ação de quê? De terroristas. Elementar, meus caros. Foi o que fez Lula ontem, nas redes sociais, e essa é uma novidade em matéria de política externa brasileira. O que ele disse:

“Fiquei chocado com os ataques terroristas realizados hoje (7/10) contra civis em Israel que causaram numerosas vítimas. Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas.”

Nunca, nem na época da ditadura militar, o Brasil usou o termo “terrorista” para referir-se a um grupo palestino ou qualificar uma de suas iniciativas. O Brasil é um histórico defensor da existência de dois Estados, um palestino e outro israelense, como solução para um conflito que se arrasta desde a criação de Israel.

Após o Holocausto que matou mais de 6 milhões de judeus, a maioria dos sobreviventes sentiu que não havia futuro para eles na Europa. Desejavam uma pátria para chamar definitivamente de sua. O Brasil presidiu a Assembleia Geral das Nações Unidas que levou à criação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948.

Salvo nos governos de um presidente de porre (Jânio Quadros) e de outro golpista (Jair Bolsonaro), a política externa brasileira sempre obedeceu a princípios pragmáticos e equidistantes, o que a tornou famosa e respeitada no mundo. Jânio quis invadir a Guiana Francesa; Bolsonaro tomou partido de Israel. Foram exceções.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, havia em 2010 no Brasil 148.329 judeus, a segunda maior comunidade judaica da América Latina (atrás apenas da Argentina), e a 11ª no mundo. Em outubro do ano passado, cerca de 12 milhões de árabes e descendentes viviam no Brasil, entre eles 50 mil palestinos.

As digitais do senador Jaques Wagner (PT-BA), filho de imigrantes judeus poloneses, estão na declaração de Lula que causou incômodo a grande parte do PT que sempre foi pró-palestinos; como as digitais estiveram na decisão tomada por Lula de reunir-se com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Na condição de presidente temporário do Conselho de Segurança da ONU desde 1º de outubro, o Brasil convocou para hoje uma reunião extraordinária que discutirá a guerra desatada entre palestinos e israelenses. Em nota, o Itamaraty diz ser urgente a retomada das negociações de paz; a última tem mais de 20 anos:

“O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas. Reafirma que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina”.

Há cerca de 14 mil brasileiros morando em Israel e outros 6 mil na Palestina, informa o Itamaraty. Até a madrugada de hoje, um fora ferido durante os ataques do Hamas, e dois estavam desaparecidos.

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