Luana, médica vetada pelo governo, cala a CPI da Covid-19
“Estamos na vanguarda da estupidez mundial”, diz a infectologista Luana Araújo sobre o comportamento no Brasil no enfrentamento do vírus
atualizado
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Onde estava com a cabeça o ministro Marcelo Queiroga, da Saúde, quando anunciou a nomeação da médica infectologista Luana Araújo para o cargo de secretária de enfrentamento da Covid-19?
Pelo que pensa, dizia antes da nomeação e continua dizendo a respeito da doença e das melhores formas de combatê-la, Luana seria um corpo estranho no governo negacionista de Bolsonaro.
Não duraria muito tempo, como de fato não durou. Sequer completou 10 dias no cargo. Bolsonaro mandou suspender sua nomeação antes que fosse publicada no Diário Oficial.
Para Luana, a desnomeação não foi constrangedora, pode ter sido frustrante porque ela, em sua ingenuidade, acreditou que seria possível compatibilizar suas ideias com as de Queiroga.
Pelo que revelou, hoje, em depoimento à CPI da Covid no Senado, até que os dois poderiam ter trabalhado juntos, sim, e se entendido. Queiroga também é médico e não pensa diferente dela.
Mas Queiroga, ao aceitar o convite de Bolsonaro para ministro da Saúde, vestiu o jaleco de político e desde então tenta segurar-se no cargo. Conseguirá? É o quarto ministro da Saúde em um ano.
Luana foi a primeira autoridade médica ouvida pela CPI que deixou a maioria dos senadores sem fala. Primeiro, porque não precisou mentir. Segundo, por dominar o assunto em discussão.
Tratamento precoce da doença? Não existe para a Covid. O que existe, mas não no Brasil como seria desejável, é o diagnóstico precoce que se faz por meio da aplicação de testes em larga escala.
O médico pode prescrever o remédio que quiser para matar o vírus ou impedir que ele mate o doente? Pode, sim, respondeu Luana, como pode e deve ser responsabilizado se o doente morrer.
Por que o sambista carioca Nelson Sargento morreu de Covid depois de ter tomado as duas doses da vacina? Ora, porque a vacina não é 100% segura. Ela serve para reduzir as mortes.
Deram-se mal, e preferiram silenciar, os poucos senadores da bancada do governo na CPI que tentaram sem sucesso encurralar Luana ou pôr em dúvida suas afirmações.
Os mais espertos, como Ciro Nogueira (PP-PI), Fernando Bezerra Coelho (PE) e Flávio Bolsonaro (RJ), faltaram à sessão; no que fizeram muito bem. Pouparam-se de ouvir o que não querem.