Jair, O Vermelho, voltará de Moscou menor do que já era
É sobre um presidente isolado internacionalmente e à caça de imagens para sua campanha à reeleição
atualizado
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Quem diria… Em Moscou, Bolsonaro submeteu-se às exigências sanitárias russas que o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão, Olaf Scholz, ignoraram. Os dois preferiram se reunir a distância com o presidente Vladimir Putin a ter de deixar material genético com o governo de outro país.
Bolsonaro, não. Mantido dentro de uma bolha de segurança para que não houvesse risco de contaminar ninguém, ele foi obrigado a fazer cinco testes contra a Covid-19 antes de ser recebido por Putin. A proximidade com o russo era essencial para Bolsonaro, carente de imagens amistosas com chefes de Estado importantes.
Antes do encontro, Bolsonaro depositou flores no monumento ao Soldado Desconhecido que lutou em defesa do seu país à época do comunismo. Comportou-se, enfim, como se fosse um dócil aliado do autocrata, que cerca a Ucrânia com 150 mil militares e ameaça invadir o país, antiga república da União Soviética.
Quem diria, hein? Onde ficou o deputado do baixo clero, órfão da ditadura, capaz de acreditar que comunista comia criancinhas? E o presidente que demoniza a esquerda aqui e no exterior ao taxá-la de comunista? Para ele, vale tudo para obter preciosos flagrantes a serem exibidos como propaganda na campanha à reeleição.
Seria um exagero dizer que Carlos, 02, o diretor de cena dos sonhos de Bolsonaro, teve passe livre no Kremlin, sede do governo russo. Mas acompanhado por um espião da KGB, doublé de diplomata, o filho mais emocionalmente instável do presidente circulou à vontade nos espaços que o pai frequentou por 3 horas.
Editar o farto material colhido pela câmera exclusiva de Carlos dará muito trabalho a ele, mas nada a que não esteja acostumado. Bolsonaro disse que Putin busca a paz, apesar de tencionar o planeta. Disse que os “valores russos, em grande parte” estão em sintonia com os valores brasileiros de amor a Deus e à família.
E se referiu ao encontro com Putin como “um casamento perfeito”. Disse que voltará ao Brasil com esse “sentimento”. E que a julgar pela “fisionomia” do seu anfitrião, Putin compartilharia do mesmo sentimento. Por fim, segundo Bolsonaro, “coincidência ou não”, sua viagem ocorreu no mesmo momento de afrouxamento do cerco à Ucrânia.
Até ontem à noite, não havia sinais de retirada de tropas. Se isso acontecer, a viagem do presidente brasileiro nada teve a ver com ela. Bolsonaro virou produtor de memes.