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Imprensa volta a sujeitar-se aos maus-tratos de Bolsonaro

Por meses a fio, ouviu-se a voz do dono e o dono da voz. Jornalistas, porém, têm o direito de perguntar o que quiserem

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Brasília (DF), 13/05/20 Presidente Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada cumprimenta com apoiadores. Local: Palácio da Alvorada Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 13/05/20 Presidente Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada cumprimenta com apoiadores. Local: Palácio da Alvorada Foto: Hugo Barreto/Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Cobrir ou não cobrir todas as atividades do presidente Bolsonaro? Essa é a questão para os jornalistas brasileiros obrigados a ouvir o que ele diz diariamente aos seus grupos de fiéis devotos à entrada e à saída do Palácio da Alvorada, faça chuva ou sol.

No fim de maio do ano passado, de tanto Bolsonaro xingar jornalistas, mandá-los calarem-se e ameaçar encher de porrada a boca de um deles, os maiores grupos de comunicação do Brasil suspenderam a cobertura no cercadinho da Alvorada.

Por meses a fio, e ao gosto do presidente, dela se encarregaram unicamente os órgãos jornalísticos estatais, os canais bolsonaristas nas redes sociais e os devotos com seus celulares. O contraditório foi abolido. Só se ouviu o dono da voz e a voz do dono.

Como Bolsonaro alterna períodos de explosão com outros onde finge ser um presidente moderado, foi-se restabelecendo, aos poucos, a cobertura habitual de suas falas. Na manhã de hoje, a repórter Mariana Costa, do Metrópoles, provou na pele como é.

Segundo ela, “de forma truculenta”, Bolsonaro recusou-se a responder às perguntas dos jornalistas. Avisou que só falaria sobre a soltura na Rússia do ex-motorista do jogador de futebol Fernando, do Beijing Guon, o brasileiro Robson de Oliveira.

Robson estava preso há dois anos, após tentar ingressar no país com caixas de Mytedon (cloridrato de metadona), medicamento legalizado em território brasileiro, mas proibido na Rússia. A pedido dos seus familiares, Bolsonaro empenhou-se em libertá-lo.

Ao aproximar-se do cercadinho da área reservada à imprensa, depois de ser ovacionado por seus apoiadores, o presidente foi logo avisando: “A pauta é única, pergunta só sobre a pauta”. Ou seja: perguntas só sobre a libertação de Robson.

Bolsonaro tem esse direito. Como os jornalistas admitidos a ouvi-lo têm o direito mesmo assim de perguntar o que quiser. Um perguntou sobre a CPI da Covid-19 e a compra da vacina russa Sputnik V. Bolsonaro respondeu de modo ríspido:

– Quer perguntar sobre o Robson, estou à disposição.

Outro jornalista perguntou se a vacina contra a Covid tinha sido um dos temas da conversa entre Bolsonaro e o chanceler russo, e foi logo interrompido:

– Nada pra você!

A cada estocada na imprensa, mais Bolsonaro era aplaudido por seus devotos. Ao cabo do encontro, um dos devotos dirigiu-se aos jornalistas e gritou: “Bandidos, vagabundos, filhos da puta”. Os agentes de segurança do presidente ignoraram o ataque.

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