HÁ VINTE ANOS – Nos Estados Unidos, a eleição do “nada sei”
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atualizado
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A verdade é esta: a eleição presidencial norte-americana de amanhã se realizará sob o estigma do “nada sei”.
* Ninguém é capaz de prever qual será o índice de abstenção. O voto não é obrigatório. E mais da metade do eleitorado não votou na eleição presidencial de 2000.
* Os institutos de pesquisas, por mais que pesquisem, não sabem dizer quem vai ganhar.
* A tendência dos eleitores jovens é votar em John Kerry, candidato do Partido Democrata. Mas ninguém se arrisca a prever se eles votarão ou se na última hora preferiram ir ao shopping, sair para comer um hamburger ou ficar em casa vendo televisão ou navegando na internet.
* A eleição já começou há mais de uma semana. Em vários Estados, quem pediu para votar pelos Correios, votou. Quem preferiu ir votar antes para não ter que enfrentar filas amanhã, votou. Só na Flórida votaram cerca de 30% dos eleitores habilitados. Um amigo meu passou cinco horas numa fila de votação no último sábado.
* Se os institutos de pesquisa não se arriscam a apostar no nome do provável vencedor, os meios de comunicação muito menos. Principalmente depois do planetário fiasco da eleição de 2000. Al Gore, candidato do Partido Democrata, foi anunciado como eleito pelas principais redes de televisão. Meia hora depois, elas recuaram e começaram a dizer que George W. Bush, do Partido Republicano, seria reeleito. A eleição acabou sendo decidida pela Justiça. Bush ganhou na Corte Suprema por um voto de diferença.
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O Libération, um dos mais importantes jornais da França e talvez o mais de esquerda, publicou, ontem, um artigo sob o título “Por que Lula torce por Bush”. Em tradução mais ou menos livre, diz assim:
“Entre os vários amigos que Bush conta no mundo tem um que deveria ser improvável – Lula. O presidente do Brasil vota Bush mesmo que seu povo prefira Kerry. Apesar do fosso ideológico que os separa, o ex-metalúrgico e o rancheiro do Texas se entendem às maravilhas.
Embora se oponha ao unilateralismo de Washington, Lula tem uma razão para preferir aquele que chama de “camarada Bush”: o seu (de Bush) desinteresse pela América Latina que deixa o campo livre ao Brasil para construir uma liderança regional. O governo norte-americano aprova o modo como o Brasil atuou nas recentes crises venezuelana e boliviana. E o papel que desempenha no Haiti comandando a Força de Paz da ONU”.
(Publicado aqui em 4 de outubro de 2004)