HÁ VINTE ANOS – Mudou o Natal ou fomos nós que mudamos?
Um mundo repleto de boas histórias
atualizado
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Dura vida, essa, de quem corre atrás de notícias. Vocês por aí: os mais normais à prudente distância do computador ou simplesmente esquecidos dele; os menos normais, dando uma espiadinha no blog enquanto bebericam alguma coisa e imaginam o quanto serão obrigados a se empanturrar de comida bem mais tarde; e eu como um insensato, aqui escrevendo abobrinhas.
Os jornais do dia nada trazem de interessante. Porque eles sabem que as fontes oficiais de informações, de que dependem ou fazem questão de depender, resolveram não trabalhar. E porque os jornais não sabem mais encontrar boas histórias por aí – embora o mundo, o país, os Estados, as cidades e os bairros estejam cheios delas.
A mídia não brigou tanto pela privatização das empresas estatais? Poderia, sem briga, privatizar seu noticiário. Mas sai mais barato seguir dependendo das fontes oficiais e oferecer o noticiário ditado por elas, e que chega à mídia pronto e embalado. Só falta o laço colorido para encantar o destinatário. Às vezes, nem isso.
Sou de um tempo em que lugar de repórter era na rua (hoje é dentro das redações, ao telefone, ou pescando na internet para publicar no dia seguinte o que a maioria das pessoas já leu).
Não havia no meu tempo pauteiro para dizer o que cada repórter deveria fazer (pauteiro é o cidadão que define, digamos assim, o que o jornal publicará no dia seguinte. Os repórteres fazem o que ele manda – ao contrário de antigamente, quando eram os repórteres que determinavam o conteúdo dos jornais.
Cada repórter cobria uma determinada área. Rodava a bolsinha por ali. E descobria notícias. Quanto mais novas, mais desconhecidas, mais surpreendentes, tanto melhor.
Bem, mudou o Natal ou mudou a mídia? Mudaram ambos. E, pelo menos os jornais, mudaram para pior de certa maneira. Estão mais bem impressos, mais coloridos, mais cheios de recursos gráficos (mapas, desenhos, tabelas, linhas do tempo) e mais desinteressantes.
Ainda se comportam como se fossem os primeiros a dar as últimas notícias – e permanecem reféns do que aconteceu ontem. Nada mais velho e conhecido do que o fato que aconteceu ontem.
(Publicado aqui em 24 de dezembro de 2004)