HÁ VINTE ANOS – Lula, o queridinho dos banqueiros
A imensa transformação sofrida por Luiz Inácio Lula da Silva
atualizado
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Da Folha de S. Paulo, hoje:
Produziu-se, no luxuoso Hotel Belvedere, em Davos, na Suíça, a mais formidável evidência da imensa transformação sofrida por Luiz Inácio Lula da Silva desde que assumiu o poder há dois anos.
William B. Rhodes, presidente do Citibank, fez questão de tomar o microfone, ao final da exposição de Lula e seus ministros a investidores estrangeiros, para proclamar: “A implementação de seu programa econômico é um bom exemplo para o mundo”.
Rhodes, que completa 70 anos em agosto, foi durante muito tempo um dos grandes demônios da esquerda latino-americana, como principal negociador, pelos bancos, da dívida da região, a cada uma das muitas crises. Uma dívida sobre a qual o velho PT exigia auditoria e até propunha plebiscitos para que o eleitor decidisse se deveria ou não ser paga.
Como se já não fosse suficiente, o encontro com os investidores forneceu um contraponto ao entusiasmo incontido de Rhodes, na voz de Belmiro de Azevedo, presidente do grupo português Sonae, com 2,4 milhões de euros de investimento no Brasil, país em que emprega 25 mil pessoas: “As condições para investir dinheiro novo (no Brasil) estão longe de ser atrativas”.
E explicou: “Neste momento, quem trabalha na ferragem, como nós portugueses chamamos a indústria, está sendo muito prejudicado, enquanto o setor financeiro tem vida fácil”. O empresário português queixou-se ainda da concorrência desleal dos sonegadores.
Reproduziu-se dessa forma em Davos o que acontece no Brasil: o encanto do setor financeiro com a política econômica e um certo azedume dos industriais, mesmo com o crescimento do ano passado, que levou Azevedo a admitir que, pela primeira, tivera algum lucro em 2004 no Brasil.
Também no café da manhã com um grupo menor de investidores, fechado à imprensa, surgiram queixas sobre o elevado nível de juros. A questão dos juros altos é a principal ressalva que faz à política de Lula o público de Davos, na grande maioria constituído de homens de negócios.
(Publicado aqui em 29 de janeiro de 2005)