HÁ VINTE ANOS – “Divergências, cadeiradas, no PT a gente dá”
Um desabafo sincero
atualizado
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O ministro José Dirceu de Oliveira, da Casa Civil, está na capa da revista “Época” que irá para as bancas amanhã. Ele concedeu longa entrevista. Seguem alguns trechos:
Época – Por que tanta gente bate no senhor?
Dirceu – Não sei. Em parte, pode ser porque eu deixei de dar entrevistas. O presidente sabe que não falo o que acontece nas reuniões, ao contrário de alguns outros ministros.
* Divergência, cadeirada, no PT a gente dá. Come o pau nas reuniões. A gente é assim. Se eu não posso falar algumas verdades para o Antonio Palocci, ministro da Fazenda, numa reunião entre nós, com o presidente, na casa dele, tomando refresco, comendo salgadinho, vou falar onde?
* No governo, o Palocci discute, debate. Agora, outra coisa é o presidente tomar uma decisão e um ministro contestar publicamente. Eu nunca faço. Ao contrário, geralmente sou eu quem faz cumprir a decisão. Aqui é presidencialismo. Quem manda, quem decide é Luiz Inácio Lula da Silva.
* O problema do país não é a inflação. O Banco Central tem que estar vigilante, mas não é esse o problema. A dívida interna do país melhorou muito, o risco Brasil caiu e a dívida externa está diminuindo. Qual o nosso problema? É fazermos investimentos em infraestrutura. Este não é um governo que tem só política monetária e fiscal. É um governo que pensa no desenvolvimento.
* Não quero ser presidente da Câmara. E não quero voltar à articulação política, até porque se eu quiser discutir tenho a articulação do governo, tenho o PT. Não tenho nenhum problema de estar fora das articulações, mas o que não pode acontecer é atribuírem a mim algo que não é a minha responsabilidade. Nem vitórias, nem derrotas.
* Eles não têm bandeira (os tucanos). Tentaram a corrupção, não pegou. Tentaram a política econômica, perderam a agenda. Na questão social, as pesquisas mostram que melhoramos. E vivem dizendo a mentira de que nós mantivemos a política econômica deles. Eles não fizeram o ajuste fiscal, nós fizemos. Eles endividaram o país, nós diminuímos a dívida. Não fizeram política industrial. A política externa era tímida e tíbia. Não fizeram a reforma tributária, nem a previdenciária, nem a lei de falências.
(Publicado aqui em 12 de dezembro de 2004)