HÁ VINTE ANOS – Brasileiro vota na mudança desde a ditadura
Confiança em queda
atualizado
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Os brasileiros votam a favor de mudanças e aderem a propostas de mudanças desde o ocaso do regime militar inaugurado no país em 1964. Foi assim quando ainda no governo do general Ernesto Geisel fortaleceram a oposição no Senado e em governos de Estados importantes.
Foi assim no final de 1983 e nos primeiros meses do ano seguinte quando ocuparam as ruas em gigantescos comícios que pediam o restabelecimento das eleições diretas para presidente.
Foi assim quando apoiaram a candidatura a presidente de Tancredo Neves em 1984 depois que a emendas das diretas, já, acabou derrotada no Congresso.
E de novo foi assim quando atenderam ao pedido do presidente Sarney para garantir a partir de fevereiro de 1986 o congelamento de preços e de salários embutido no Plano Cruzado. Os brasileiros retribuíram o gesto de Sarney dando ao PMDB naquele ano a maior vitória eleitoral de sua história. O PMDB elegeu 22 dos 23 governadores.
O chamado Plano Cruzado, que prometia uma inflação suíça combinada com um desenvolvimento japonês, foi para o buraco no dia seguinte ao da eleição. Os brasileiros se descobriram lesados mais uma vez. E jogaram pedras no ônibus que conduzia Sarney e sua comitiva no Rio de Janeiro.
Quer se goste disso ou não, o voto em Fernando Collor, o falso caçador de marajás, foi o voto na mudança. Ele e Lula, seu adversário no segundo turno das eleições de 1989, representavam a mudança.
Foi uma vez mais para mudar que os brasileiros deram seu aval à deposição de Collor em dezembro de 1992. E foi uma vez mais para mudar que elegeram Fernando Henrique em 1994 depois que o Plano Real dominou a inflação e começou a distribuir renda.
O Real teve fôlego para assegurar a Fernando Henrique um novo mandato – mas não para fazer de José Serra seu sucessor. Ao elegerem Lula em 2002, os brasileiros votaram nas mudanças que ele prometeu.
Até aqui, eles acompanham com simpatia o desempenho do presidente, mas parecem cada vez mais impacientes com o ritmo das mudanças. Ou não enxergam mudanças ou pensam que elas são tímidas demais.
Lula, o PT e sua turma têm mais um ano e pouco para recompor o capital de confiança que se esvai. 2006 será o ano do julgamento deles e já não haverá mais tempo para correr atrás do prejuízo.
(Publicado aqui em 11 de novembro de 2004)