HÁ VINTE ANOS – A história das fotos que não eram de Vladimir Herzog
Nos tempos da ditadura militar
atualizado
Compartilhar notícia
O governo Lula decide no início da próxima semana se convida ou não Clarice Herzog, viúva do jornalista Vladimir Herzog, para ver a coleção de quase 40 fotos feitas pela extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e de onde foram extraídas cópias das três publicadas no último domingo e no dia seguinte pelo jornal Correio Braziliense.
Em uma delas, Clarice reconheceu seu marido, morto sob tortura em outubro de 1975, nas masmorras do Exército, em São Paulo. A intenção do governo é convencer Clarice em definitivo que o homem nu que ela identificou como Herzog, na verdade é o padre canadense Leopold B’Astoir, ex-titular da paróquia de São José Operário, na Asa Norte de Brasília.
A coleção de fotos, tiradas entre setembro de 1973 e os primeiros meses de 1974, se divide em três blocos distintos:
a) cenas do padre em passeios com a freira Terezinha Sales, encarregada da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Goiânia;
b) cenas do padre e da freira em reunião com um grupo de jovens;
c) cenas dos dois com e sem roupa em um quarto.
Fazem parte desse último bloco as três fotografias publicadas pelo Correio e reproduzidas pelos principais jornais do país. Em duas delas, o padre aparece nu escondendo o rosto com a mão direita. Na outra, ele está nu esboçando o gesto de quem tenta pegar um pano e, ao seu lado, vestida e gesticulando na direção do fotógrafo, aparece a irmã Terezinha.
As três fotografias foram usadas em um panfleto apócrifo distribuído em 1981 por agentes do SNI entre os frequentadores da paróquia do padre Leopold. A intenção era desmoralizá-lo – e à freira. Os dois, mas principalmente ela, eram considerados religiosos de esquerda e adversários do regime militar de então.
A Agência Brasileira de Inteligência, que sucedeu ao SNI, está à caça de cópias do panfleto que, à época, também foram afixadas em postes de Brasília.
(Publicado aqui em 22 de outubro de 2004)