Há 20 anos – Lula entre duas crises
Texto publicado originalmente em 22 de março de 2004
atualizado
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Quase metade desta segunda-feira se passou e o governo mantém o silêncio sobre a grave denúncia publicada na edição recente da revista Carta Capital. Na capa e em 13 páginas internas, o ex-diretor do FBI no Brasil, o português Carlos Costa, diz simplesmente que:
- Agentes secretos americanos entram e saem do Brasil sem que o governo brasileiro saiba; sem que monitore suas atividades; sem que tenha a menor ideia sobre o que eles estão fazendo;
- Quando quer e precisa, FBI, CIA e qualquer outro órgão de espionagem americano recruta delegados e agentes da Polícia Federal para missões do seu interesse. Mais uma vez o governo brasileiro nada fica sabendo.
- Dinheiro americano grosso pinga na conta de delegados da Polícia Federal sem que eles precisem declarar que o receberam.
- O Palácio do Alvorada e o Itamaraty foram grampeados.
A entrevista concedida ao repórter Bob Fernandes é uma bomba. Governo sério algum pode silenciar diante dela. O ex-chefe do FBI aceita depor no Congresso. Ele se aposentou, é casado com uma brasileira, pai de uma brasileira e aqui pretende ficar.
Acuado por uma crise interminável que começou com o episódio Waldomiro (funcionário da Caixa Econômica que cobrou propina), o governo se quiser poderia trocar de crise – e atacar a detonada pela Carta Capital.
Ou se preferir, ficar com duas crises. Mas poderia distrair a atenção do distinto público da crise Waldomiro fazendo um barulhão com a crise do ex-diretor do FBI.
O que não dá é para o governo fazer de conta de que não leu a única publicação brasileira que apoiou Lula em editorial antes do primeiro turno da eleição presidencial de 2002.