Governo Bolsonaro faz do Palácio do Planalto um endereço suspeito
Esconder a agenda do presidente foi mais uma Operação Tabajara
atualizado
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Talvez sob o efeito de estimulantes comprados para turbinar as Forças Armadas, militares que cercam Bolsonaro tiveram a ideia de aconselhá-lo a esconder sua agenda de encontros com dois pastores evangélicos investigados por corrupção.
Se ela se tornasse pública um dia, sempre se poderia dizer que os pastores foram ao Palácio do Planalto visitar ministros, Bolsonaro não. E se a desculpa não soasse convincente, que estiveram com Bolsonaro rapidamente para um alô, uma reza, ou um abraço.
Sob o pretexto de que a segurança pessoal do presidente e dos seus familiares não deveria ser posta em risco, decretar-se-ia o sigilo da agenda por 100 anos. É um recurso controverso, mas seria sustentável. Já fora adotado em ocasiões passadas.
Os artífices de mais uma Operação Tabajara se esqueceram de levar em conta duas coisas. A primeira: em ano eleitoral, danos à imagem do governo podem provocar hemorragia de votos. A segunda: a Constituição em vigor fala em transparência.
Parecer recente da Controladoria-Geral da República diz que a agenda de trabalho do presidente deve ser tornada pública em obediência ao princípio da transparência estabelecido pela Constituição. O povo tem direito de saber o que ele faz. Simples.
Às pressas, deu-se então o dito pelo não dito, algo muito comum neste governo. E assim pôde-se saber que em três anos e três meses da profícua gestão de Bolsonaro, os dois pastores estiveram no Palácio do Planalto, ao todo, 45 vezes.
O pastor Gilmar Silva Santos, recomendado por Bolsonaro ao ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, foi 10 vezes recebido em audiência no Palácio do Planalto. Por Bolsonaro? Por Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil e um dos líderes do Centrão?
Por ora, é um mistério. O pastor Arilton Moura esteve no palácio 35 vezes no mesmo período. Não é pouco. Gilmar e Moura foram acusados por prefeitos de cobrarem propina em troca da liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Há 15 dias, o Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República, domínio de Augusto Heleno, o mais vovô dos generais de Bolsonaro, negou informações sobre visitas do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) ao palácio.
Se as paredes do Palácio do Planalto falassem… Mas Heleno dá um jeito para que não falem.