Fux peita Bolsonaro, que sai de encontro miando baixinho
Sob pressão dos seus colegas, presidente do Supremo Tribunal Federal adverte o presidente da República
atualizado
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O que deu em Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal, para peitar o presidente Jair Bolsonaro? E o que deu em Bolsonaro para sair do encontro com Fux miando baixinho, pedindo orações para ele e se apresentando como “Jairzinho paz e amor”?
Na semana passada, Fux reagiu com duas notas protocolares à ameaça feita por Bolsonaro às eleições do ano que vem e aos ataques a ministros do Supremo. Bolsonaro não ligou e, no último fim de semana, renovou os ataques aos ministros.
Então Fux, à meia-noite da sexta-feira, telefonou para Bolsonaro, que estava em Porto Alegre depois de ter passado mal durante um jantar em uma vinícola, e o convidou para um encontro, ontem, no austero Salão Branco do prédio do Supremo.
A conversa durou 20 minutos. Segundo contou Fux, ele pediu a Bolsonaro que “respeitasse os limites da Constituição”. O que quer dizer: ele não tem respeitado. E Bolsonaro teria se comprometido a moderar seus ataques aos ministros do Supremo.
O que quer dizer: ele não deixará de atacá-los sempre que quiser, apenas não se valerá de termos duros e muito menos chulos. Bolsonaro recorreu a uma fácula evangélica sobre o perdão para mostrar que entendeu o esforço de Fux em estancar a crise.
À saída, vestiu a fantasia de Bolsonaro bem comportado, respondeu a perguntas de repórteres sem se alterar e puxou um Pai Nosso. Fux disse-lhe que, em breve, o chamará para uma reunião com ele e os presidentes do Senado e da Câmara.
Os dois são aliados de Bolsonaro e tiveram sua ajuda para se eleger, mas Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o presidente do Senado, já foi mais aliado dele. É possível que troque o DEM pelo PSD de Gilberto Kassab para candidatar-se à sucessão de Bolsonaro.
É de ver por quanto tempo Bolsonaro irá suportar o freio que Fux quer lhe impor. De vezes passadas, não suportou por muito tempo. É de ver também o que farão Fux e os presidentes do Senado e da Câmara quando Bolsonaro voltar ao seu estado primitivo.
O clima dentro do Supremo é muito ruim para ele. O clima dentro do Congresso se deteriora. Nem mesmo a oposição que diz querer o seu impeachment o quer de verdade. Mas o impeachment poderá tornar-se provável se Bolsonaro não mudar de rumo.