Bolsonaro diz que Lula é amigo de Daniel Ortega, ditador da Nicarágua, e de Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. E que por isso, como Ortega, prenderá padres e fechará igrejas se vencer, e, como Maduro, mudará as leis e nunca mais sairá do poder.

Lula governou oito anos, Dilma quase seis. Nem ele nem ela prenderam padres ou fecharam templos. Não mudaram leis para ficar no poder. Lula foi para casa ao término do seu segundo mandato; Dilma, derrubada antes do tempo regulamentar.

Algum deles, por acaso, sugeriu em quartéis armar o povo para que “jamais fosse escravo de ninguém”? Algum deles fez comícios à porta do QG do Exército, em Brasília, turbinando a pregação dos seus devotos mais radicais contra o Estado de Direito?

Seis ministros do Supremo Tribunal Federal foram indicados por Lula. Apesar disso, o Supremo mandou para prisão os petistas envolvidos no escândalo do mensalão, e sob pressão militar, negou a Lula um habeas-corpus que o impediria de ser preso.

É Bolsonaro que acena com o aumento do número de ministros do Supremo e o encurtamento dos seus mandatos. E para quê, se não para controlá-lo? Para que ele se torne mais independente ou se mantenha independente, com certeza não será.

Se reeleito, espera contar com o apoio do Congresso de DNA bolsonarista para impor suas vontades ao Supremo. Tal apoio pode não acontecer, mas por que correr o risco? Bolsonaro admite esquecer a proposta se “a temperatura” no tribunal baixar.

Antes mesmo de se eleger presidente, Bolsonaro falava que a justiça deveria trabalhar em sintonia com os demais poderes, Executivo e Legislativo. A Constituição diz que os Poderes da República são autônomos e define o papel de cada um.

Temeu-se até outro dia o golpe que Bolsonaro daria caso fosse derrotado nas eleições. Não houve golpe e não haverá se ele perder. Poderá haver golpe, sim, se ele for reeleito. Bolsonaro é filhote da ditadura de 64, sente falta dela e não esconde.

É ele que se parece com Maduro.