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Exército, que Bolsonaro chamou de seu, começa a distanciar-se dele

Fabricante de crises, presidente é obrigado a ouvir o que o deixa à beira de um novo ataque de nervos

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Cerimônia de comemoração do dia do soldado no Quartel General do Exército agenda bolsonaro militares 4
1 de 1 Cerimônia de comemoração do dia do soldado no Quartel General do Exército agenda bolsonaro militares 4 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Há dois dias, irritado com o que leu ou leram para ele, o presidente Jair Bolsonaro pressionou o general Paulo Sérgio de Oliveira, Comandante do Exército, para que revisse sua diretriz que regula o retorno da tropa ao trabalho presencial em meio à pandemia da Covid-19 que matou no Brasil mais de 620 mil pessoas.

Bolsonaro interpretou a diretriz, ou interpretaram por ele, como uma forma de Oliveira cobrar “passaporte da vacina”, o que o presidente rejeita. Seu capacho, o general Walter Braga, ministro da Defesa, reuniu-se na tarde de sexta-feira para discutir o assunto com generais do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Então, deu-se como certo que o Comandante do Exército divulgaria uma nota a respeito da diretriz que recomenda o “uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização de mãos”, e ordena que os militares não reproduzam notícias falsas sobre a pandemia. Cadê a nota? Por ora, não saiu. Talvez jamais saia.

Se sair, dificilmente configurará um recuo de Oliveira que tomou, ontem, o café da manhã com Bolsonaro. “Não tem exigência nenhuma. Não tem mudança. Pode esclarecer”, pediu o presidente a jornalistas. “Se ele quiser esclarecer, tudo bem, se não quiser, tá resolvido, não tenho que dar satisfação a ninguém”. Tem e deu.

A cobertura vacinal nas Forças Armadas é menor que a do Brasil. No país, é de 75%. No Exército, 56,3% e na Aeronáutica, 54,9%, conforme publicou o site Metrópoles. Ao todo, 36 mil militares das duas armas se recusam a serem vacinados. Oliveira está preocupado com isso, sempre esteve, daí a diretriz que editou.

No mesmo dia em que tentou enquadrar o Comandante do Exército, Bolsonaro partiu para cima da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), presidida pelo almirante Antonio Barra Torres, que liberou a vacinação infantil contra a Covid. Sugeriu que, ali, pode haver corrupção. Não apresentou provas.

Para quê fez isso… Na noite do sábado, em uma nota em tom pessoal, o almirante deu-lhe o troco. Disse, entre outras coisas:

“Senhor presidente, como oficial general da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. […] Como cristão, senhor presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho”.

“Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa. Aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho tenho o privilégio de integrar”.

“Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Pelo contrário”.

Bolsonaro emudeceu. Também não respondeu ao general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro do seu governo, que disse que ele faz “um show de besteiras todos os dias”. Tampouco ao general Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras, nomeado por ele, mas que nem sempre faz as suas vontades.

Silva e Luna voltou a dizer que a política de preços da Petrobras será mantida. Bolsonaro quis alterá-la para baixar o preço dos combustíveis e faturar votos. “O que regula o preço é o mercado, particularmente quando se trata de commodities”, ensinou o general. “Essa percepção já está bem consolidada”.

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