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Eu, a China, e assim se passaram 75 anos

Caminhos cruzados

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1 de 1 xangai shangai china - Foto: Divulgação

Sou mais velho do que a China. Quero dizer: mais velho do que a República Popular da China (中华人民共和国), que hoje completa 75 anos. Completei 75 anos em agosto.  A China é o maior país da Ásia Oriental e o segundo mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes, superado apenas pela Índia.

Evidências arqueológicas sugerem que os primeiros hominídeos habitaram a China entre 250 mil a 2,24 milhões de anos atrás. O termo “China” foi registrado pela primeira vez em 1516 no diário do explorador português Duarte Barbosa.  Hoje, a China é a maior potência econômica do planeta em paridade de poder de compra.

15.460 quilômetros separam Pequim do Recife, onde eu morava em 1968 quando meu caminho cruzou com o da China pela primeira vez. Eu estudava jornalismo na Universidade Católica e era o segundo secretário do Diretório da Faculdade de Filosofia. Ali, predominava a influência da Ação Popular (AP).

Nascida do ventre da Igreja Católica, a AP ainda não se dizia marxista-leninista. Mas já começava a rezar pela cartilha de Mao Tsé-Tung, líder comunista e pai da República Popular da China. Com frequência, nós do Diretório nos reuníamos para ler e discutir nos fins de semana “O Livro Vermelho” do presidente Mao.

Algumas das tiradas de Mao ficaram famosas” e as sabíamos de cor:

“A política é uma guerra sem derramamento de sangue, e a guerra uma política com derramamento de sangue.”

“Somos a favor da abolição da guerra, não a queremos. Mas a guerra só pode ser abolida com a guerra.”

“O poder nasce da ponta do cano de um fuzil.”

“Comunismo não é amor, comunismo é um martelo com o qual se golpeia o inimigo”.

Entre meus colegas do Diretório, meu voto era chamado de “vacilante”. Ora eu votava com a AP, ora com o Partido Comunista Brasileiro (PARTIDÃO), ora com o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Não havia espaço para a direita no movimento estudantil. Mas nunca fui comunista.

O que não impediu que eu fosse preso quatro vezes naquele e no ano seguinte. A ditadura militar de 64 no Brasil tirou a máscara e se assumiu como tal no turbulento ano de 1968. Perdi amigos que lutaram de armas nas mãos para derrubá-la e foram mortos. Escolhi combatê-la denunciando os seus crimes sempre que pude.

Para mim, liberdade e autoritarismo são inconciliáveis como água e óleo. As moléculas de ambos têm propriedades diferentes que fazem com que não se misturem. Ditaduras podem ser de direita ou de esquerda, mas não deixam de ser ditaduras que para se manterem garroteiam a liberdade. Vivi 21 anos sob uma.

A segunda vez que meu caminho cruzou com o da China foi em 2020, quando o vírus da Covid-19 migrou de um mercado chinês para o mundo, e aqui matou mais de 700 mil pessoas, graças, em parte, ao governo mais irresponsável da nossa história recente. O vírus não me pegou, mas pegou meus familiares.

Mao Tsé-Tung governou a China com mão de ferro até à sua morte. Foi festejado pelos maiores chefes de Estado da sua época. Os Estados Unidos se juntaram a ele para enfraquecer o poder da então União Soviética. A União Soviética acabou, dando lugar à Rússia de Vladimir Putin. O Império do Meio só se fortalece.

Feliz aniversário!

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