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Estava tudo combinado entre Jair Bolsonaro e Daniel Silveira

Afronta à decisão do Supremo Tribunal Federal é mais um passo na escalada contra a democracia

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Daniel Silveira e Jair Bolsonaro (1)
1 de 1 Daniel Silveira e Jair Bolsonaro (1) - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Perguntas que teimam em ser feitas aos gritos, devido à alarmante disposição de Bolsonaro para acuar o Judiciário, o único dos Poderes da República a se opor ao seu plano de enfraquecer a democracia até que reste pouca coisa dela.

E se Dilma Rousseff, à época presidente, em seguida ao julgamento dos mensaleiros do PT em 2012, tivesse assinado um decreto para indultar os 24 réus condenados pelo Supremo Tribunal Federal, entre eles o ex-ministro José Dirceu de Oliveira?

Como o Supremo teria reagido? Como a opinião pública teria reagido? O povo sairia às ruas para protestar? O Congresso se declararia em sessão permanente? E as Forças Armadas? Permaneceriam mudas ou emitiriam uma nota de indignação?

Dilma poderia ter feito o que Bolsonaro fez ontem em relação ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a 8 anos e 9 meses de prisão, multado, cassado, e tornado inelegível pelo Supremo por crimes contra a democracia. Mas, ela não fez.

Faltou-lhe coragem? Ou sobrou-lhe respeito pela Justiça? Os próximos dias trarão respostas a essas perguntas e a outras. A pior delas será a inércia dos que ainda dizem se preocupar com o acelerado processo de enfraquecimento da democracia entre nós.

O acaso apronta, mas nada aconteceu por acaso desde que Silveira, em fevereiro do ano passado, divulgou um vídeo onde fez o mais infame ataque jamais desferido contra o Supremo e alguns dos seus membros. Bolsonaro foi avisado disso com antecedência.

O DNA dos dois é muito parecido. São marginais. Eles sempre atuaram à margem da ordem institucional. Bolsonaro foi marginal no Exército, onde acabou punido; foi marginal na Câmara dos Deputados, onde ficou quase 30 anos; é um presidente marginal.

Silveira foi um policial militar marginal, punido com prisão dezenas de vezes; abusou de tirar licenças para tratar da saúde, escapando assim de ser expulso da corporação. Foi investigado por roubalheira, assim como os Bolsonaro são por rachadinha.

Há duas semanas, pelo menos, Bolsonaro concluiu que o Supremo condenaria Silveira por larga margem de votos. Então, o que fez? Aconselhou Silveira a atacar novamente o Supremo e o ministro Alexandre de Moraes no dia do julgamento.

Foi também por orientação de Bolsonaro que Silveira e o deputado Eduardo “Bananinha” Bolsonaro (PL-SP) bateram às portas do prédio do Supremo pedindo para assistir à sessão. Como iriam se comportar lá dentro, ninguém imagina. Mas foram barrados.

“Bananinha” e Silveira sabiam que o decreto do indulto, ou da graça como preferem os juristas, já estava praticamente pronto, e Bolsonaro decidido a assiná-lo. Mas a ida deles ao Supremo fazia parte do show que serviria aos propósitos de Bolsonaro.

O único ministro a votar pela absolvição de Silveira, Kassio Nunes Marques, não estava alheio ao que se passava, e por isso ficou mal com seus pares. O ministro terrivelmente evangélico André Mendonça não sabia de nada, e votou pela condenação de Silveira.

Bolsonaro foi alertado por alguns dos seus auxiliares que o indulto seria entendido como uma afronta à decisão tomada por 10 dos 11 ministros do Supremo, mas era justamente isso o que ele queria que fosse. Quanto à sorte final de Silveira, pouco lhe importa.

Se um boneco já não serve para que o ventríloquo exiba seus dotes, providenciasse outro. Quantos foram os bonecos que Bolsonaro já não mandou para o fundo do baú? É sobre Ernesto Salles, Abraham  Weintraub, o general Eduardo Pazuello, e por aí vai.

Poucas horas antes do anúncio do indulto, era de desolação o clima entre os bolsonaristas de raiz nas redes sociais. Muitos deles escreveram que Bolsonaro estava próximo do fim. O decreto ejaculado precocemente provocou orgasmos múltiplos nessa gente.

 Um deles digitou eufórico: “Lição do dia: manda quem tem poder, e dane-se a lei”.

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