Enquanto Bolsonaro faz barulho, Lula prefere avançar em silêncio
Cada um, ao seu estilo, se prepara para a guerra de morte a ser travada no ano que vem
atualizado
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São duas estratégias claramente distintas. A do presidente Jair Bolsonaro é barulhenta e alimenta-se de conflitos. À falta de um, mesmo que por um breve momento, ele inventa e detona.
A do ex-presidente Lula desenvolve-se à sombra. Por ora, ele só quebra o silêncio para alfinetar Bolsonaro e mostrar que continua interessado em disputar a eleição do ano que vem.
Bolsonaro fala todos os dias, Lula também, mas em conversas reservadas com políticos de todas as tendências. Bolsonaro cria fatos polêmicos; quanto menos polêmica criar, melhor para Lula.
Desobrigado de usar máscara e disposto a provocar aglomerações, Bolsonaro passeia pelo país o mais que pode. Lula só se apresenta de máscara e evita sair à luz do dia.
Bolsonaro quer chamar a atenção o tempo todo, e é bem-sucedido nessa tarefa. Lula não quer chamar a atenção, pelo contrário, e também é bem-sucedido na tarefa.
Pesquisas de intenção de voto ainda conferem vantagem a Lula sobre Bolsonaro, mas ela tende a diminuir com o avanço da vacinação, a recuperação da economia e o auxílio emergencial.
A ordem de Bolsonaro dentro do governo é não poupar gastos para que possa se reeleger. A inflação está em alta, mas ele espera que não haja tempo para que isso se volte contra ele daqui a um ano.
A ordem de Lula dentro do PT é para gastar saliva na tentativa de fazer alianças à esquerda e à direita. Só atraindo apoios à direita poderá vencer Bolsonaro no segundo turno.
Bolsonaro confia que se reelegerá porque nunca antes na história do país um presidente candidato à reeleição perdeu. Lula tem pela frente o desafio de quebrar tal escrita depois que ela o beneficiou.
Bolsonaro tem mais um encontro marcado com motociclistas, desta vez em São Paulo. É improvável que Lula compareça a manifestações marcadas contra Bolsonaro, mas bem que gostaria.
Se comparecesse, reforçaria a acusação de Bolsonaro de que as manifestações são atos apenas da esquerda. Quanto mais amplos eles forem, pior será para Bolsonaro.
Ontem, enquanto Bolsonaro cobrava um parecer do ministro da Saúde para dispensar o uso de máscara, Lula desembarcava no reduto eleitoral de Bolsonaro com o objetivo de enfraquecê-lo ali.
Lula quer operar a mágica de juntar Marcelo Freixo (ex-PSOL), Eduardo Paes (ex-DEM), Rodrigo Maia (de saída do DEM) e quem mais puder para disputar no Rio as próximas eleições.
Bolsonaro está sem partido desde que abandonou o PSL, sigla pela qual se elegeu em 2018. Com um pé no Patriota, legenda de aluguel, ainda não decidiu se porá o outro. Uma facção do partido o rejeita.