Em nome de Deus, pastor pede votos para reeleger deputado federal
Aconteceu em Manaus, mas está acontecendo em toda parte. Se isso não é abusar da religião, além de crime eleitoral, o que é?
atualizado
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No último sábado (22/4), o pastor Moisés Melo, da Igreja Assembleia de Deus no Amazonas, pediu aos fiéis que votem no deputado federal Silas Câmara (Republicanos) e em seu irmão, o coronel da Polícia Militar Dan Câmara, candidato a deputado estadual. A Lei 9.504/97 proíbe propaganda em templos religiosos no Brasil.
Uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral também foi desrespeitada pelo pastor e pelos candidatos. Ela diz que é propaganda antecipada a mensagem que contenha pedido explícito de voto ou que veicule conteúdo eleitoral em local vedado no período de pré-campanha.
A pregação do pastor foi transmitida ao vivo pela Rede Boas Novas (RBN) de televisão que pertence ao pastor Samuel Câmara. Na época em que a adquiriu, Câmara era o líder da Igreja Assembleia de Deus no Amazonas. Sobre Silas, que pretende se reeleger deputado federal pela sexta vez consecutiva, disse o pastor Moisés:
“O nosso deputado Silas precisa, em Manaus, de pelo menos 50 mil votos. Mas nós podemos chegar a dar 80 mil se nós quisermos. Os homens creem assim. Amém! Em Manaus, fora o interior do Estado. Os nossos queridos Dan e Silas, só Manaus pode elegê-los, o que vier do interior será uma bênção.”
Siles é bolsonarista de raiz. Em março de 2020, tão logo a Covid-19 matou a primeira pessoa no Brasil, o deputado, na condição de presidente da Frente Parlamentar Evangélica, divulgou nota pedindo a reabertura dos templos:
“Neste momento de tanta aflição, é fundamental que os templos, guardadas as devidas medidas de prevenção, estejam de portas abertas para receber os abatidos e acolher os desesperados. Cremos que a fé é uma grande aliada neste grave momento da Nação, por isso não podemos limitá-la.”
Ao longo da carreira como deputado, Silas tem sido alvo de inúmeras denúncias por mau uso de dinheiro público. Uma delas bateu às portas do Supremo Tribunal Federal em 2003 e ali ficou parada até o ano passado. Silas é acusado de embolsar parte dos salários de seus funcionários na Câmara – a rachadinha.
O julgamento teve início em 20 de novembro. Dois ministros, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, votaram a favor da condenação de Silas a 5 anos e 3 meses de prisão, perda de mandato e devolução de 248 mil reais aos cofres públicos. Kássio Nunes Marques, nomeado por Bolsonaro, pediu vistas do processo.
O julgamento deveria ter sido retomado em fevereiro, mas o ministro Luiz Fux, presidente do Supremo, retirou-o da pauta.