Em defesa dos bolsonaristas culpados pelo descrédito dos militares
Temos de compreendê-los
atualizado
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Está nos dicionários: empatia é a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar ou sentir da forma como ela agiria, pensaria ou sentiria. Não é algo exclusivo do ser humano. Seu cachorro pode sofrer quando você sofre.
Ponha-se no lugar de um bolsonarista sincero, porém radical. Ele acreditou que estaria por chegar um Messias que salvaria o Brasil do comunismo, da corrupção e do desregramento dos costumes – e o Messias se apresentou na pele de Jair Bolsonaro, logo de quem.
Para o bolsonarista, não pareceu um falso Messias, mas o que poria de verdade o “Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos.” Natural que para se reeleger, atualizasse a mensagem, trocando-a por “Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração”.
O combate ao comunismo foi retórica pura, de vez que ele não ameaça o mundo. Na primeira oportunidade que teve, o PT e seus aliados voltaram ao poder, e com eles os investimentos internacionais. A casa não caiu, sequer tremeu, pelo contrário.
O combate à corrupção foi um fiasco. Eleito pegando carona na Lava-Jato, Bolsonaro promoveu Sérgio Moro a ministro da Justiça, prometendo-lhe uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Moro demitiu-se para não ser demitido. A Lava-Jato foi enterrada.
Mas os bolsonaristas acreditaram mesmo assim que o Messias, diante da pandemia, saberia como conduzi-los na travessia do deserto. E por acreditarem, milhares deles morreram intoxicados de tanto consumir drogas ineficazes, e por horror à vacinação.
Empatia, empatia… Por mero instante, você começa a se pôr no lugar de um bolsonarista? Pois bem: de tanto ouvirem que as urnas eletrônicas eram inseguras, e a Justiça nada confiável, eles simplesmente não se conformaram com a derrota do seu guia.
Foi roubo. As eleições foram fraudadas. Os resultados devem ser anulados. E as Forças Armadas, que governaram com Bolsonaro apoiando-o incondicionalmente, intervirão e não darão posse ao homem dos quatro dedos e aos seus asseclas. E o que se viu?
A uma ordem de Bolsonaro, as portas dos quartéis se abriram para abrigar os que acreditavam que só lhes restava o golpe como saída. E ali foram bem acolhidos e sentiram-se seguros. A família militar os prestigiou e os protegeu. Até bombas puderam confeccionar.
Dali, na noite de 12 de dezembro, saíram em marcha para o Palácio da Alvorada, onde lancharam de graça e foram recebidos pelo presidente da República. Do Alvorada, saíram para o centro de Brasília, tocaram fogo em ônibus e atacaram prédios.
Era uma espécie de ensaio para o que viria. De fato, não esperavam que fosse a posse de Lula, mas um golpe. Frustraram-se ao assistir à fuga do casal presidencial, mas não perderam a crença de que alguma coisa ainda seria possível. Então veio o 8 de janeiro.
E vieram as prisões em massa, sem que os militares os defendessem; e as prisões de militares, trocas de comandos, continências para Lula e finalmente a suspeita, para eles por ora suspeita, de que Bolsonaro roubou e deixou que roubassem.
Nunca mais ouviram falar em “Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos.” Nem em “Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração”. Escutam: “Deus, propina e diamante”. Ou: “República da Muamba e dos Camelôs de Joias”. Só falta o Messias ser preso.
Empatia. Empatia. Não os culpe, portanto, por terem perdido a confiança nos militares, como conferiu a pesquisa Genial/Quaest deste mês; por sinal, pesquisa aplicada antes dos últimos acontecimentos que puseram Bolsonaro à beira do patíbulo.
Tão cedo os militares se recuperarão do desastre que foi embarcar na canoa furada de um ex-capitão afastado do Exército por má conduta. Não foi por falta de aviso. Embarcaram porque seu viéis golpista é muito forte, e de mentirinha seu amor pela democracia.