Em campanha para reeleger Lula daqui a dois anos
A Santíssima Trindade do governo
atualizado
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O ministro José Dirceu, da Casa Civil, viveu mais um fim de semana como cabo eleitoral de candidatos do PT às próximas eleições. Foi visto em comícios no interior do Rio e de São Paulo. E não perdeu uma única chance de defender o governo Lula e de dar fortes estocadas no PSDB e no governo Fernando Henrique.
Ao lado de Lula e do ministro Antonio Palocci, da Fazenda, Dirceu faz parte da Santíssima Trindade do governo (sem desrespeito algum à trindade santíssima original). E conserva a posição de maior cacique do PT depois do presidente da República. Tem o controle do partido. É candidato a permanecer no governo caso Lula se reeleja. E à sucessão de Lula em 2010.
Sei que há muito chão para frente até lá – e mesmo até 2006. Mas Lula só não renovará seu atual mandato se cometer enormes besteiras daqui para frente (não se deve subestimar a capacidade dele e do governo de cometer besteiras). Ou se a “fortuna” lhe faltar.
Maquiavel ensinou que para manter o poder o príncipe (ou o governante) tem que ser virtuoso e contar com a sorte – destino, conjuntura favorável, circunstâncias, seja lá como vocês preferirem chamar. Por adotar políticas que antes condenava, Lula tomou o discurso da oposição (PSDB-PFL).
Se o crescimento da economia não for uma bolha, ele poderá se reeleger com o discurso do choque social adiado até aqui por conta da severa ortodoxia da política econômica de Palocci. Choque social é com o ministro José Dirceu mesmo – que vive dizendo que o crescimento econômico por si só é insuficiente.
De fato, ao fim do seu atual mandato, Lula poderá até alegar que diminuiu um pouco a pobreza. Mas não terá reduzido o abismo social que separa pobres de ricos. O perfil da distribuição de renda, um dos mais perversos do mundo, não será alterado. Lula pedirá mais quatro anos para alterá-lo.
Este tem sido o mandato de Lula-Palocci. O próximo poderá vir a ser o de Lula-José Dirceu.
(Publicado aqui em 29 de agosto de 2004)